Apesar de o Fies ter se tornado um programa pouco interessante financeiramente para as faculdades, 993 instituições de ensino aderiam ao financiamento estudantil do governo federal neste semestre. O volume é semelhante ao do ano passado, quando ainda vigoravam as regras antigas.
Essas faculdades estão ofertando 832 mil vagas de cursos de ensino superior. O prazo para inscrições do Fies começou ontem, mas o site do programa apresentou problemas e não abriu durante o dia.
Segundo Elizabeth Guedes, vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas (Anup), a adesão ao novo Fies foi alta principalmente porque grandes grupos de ensino optaram por participar do programa, o que acabou levando as escolas menores a aderirem para não perder participação de mercado. A Kroton, maior grupo de educação superior privado do país, informou em dezembro que ofereceria seus cursos no novo Fies. "O Fies deixou de ser tão relevante na captação de matrículas e menos rentável. Ainda assim, vamos continuar oferecendo o Fies porque é um programa de política pública", disse Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, na ocasião.
No começo de janeiro, a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) recomendou às instituições de ensino superior que boicotassem o novo Fies, com a alegação de que as contrapartidas exigidas pelo governo geravam abatimentos que chegavam a 40% nos valores das mensalidades. Pelas atuais regras do Fies, uma parcela entre 10% e 25% da mensalidade precisa ser revertida para um fundo garantidor para cobrir a inadimplência do financiamento estudantil.
A vice-presidente da Anup lembra que o Fies diminuiu muito de tamanho, e suas mudanças causam menos impacto às instituições de ensino. Neste primeiro semestre, o MEC liberou 80 mil vagas para o Fies 1, modalidade em que o governo subsidia 100% da taxa de juros. No entanto, o diretor executivo da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Sólon Caldas, acredita que essas vagas não serão totalmente preenchidas. "Historicamente há uma sobra de 20% das vagas porque os alunos não conseguem se enquadrar às exigências, que não mudaram", disse Caldas. O estudante precisa ter renda per capita de até três salários mínimos e obter 450 pontos no Enem, além de não zerar na redação do exame.
Segundo Caldas, mesmo se enquadrando nessas regras, dificilmente o aluno consegue financiar 100% da mensalidade porque não pode comprometer um percentual elevado de sua renda para amortizar o financiamento. "Com isso, muita gente acaba desistindo", acrescenta.
Em relação às outras duas modalidades do financiamento (Fies 2 e Fies 3), que juntos vão oferecer 75 mil vagas neste primeiro semestre, o programa ainda engatinha.
No Fies 3, os recursos vêm do BNDES, mas o banco de fomento ainda não repassou o dinheiro para este primeiro semestre. As instituições financeiras comerciais que se cadastram no programa como Itaú Unibanco, BV Financeira, Andbank e Paulista (todas fizeram parceria com a Ideal Invest) estão colocando recursos próprios. Com isso, estão adotando taxa de juros e prazos de amortização de mercado.
No Fies 2, voltado para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os bancos ainda estão em fase de captação de dinheiro com fundos regionais constitucionais, que serão os responsáveis pelos recursos.