Por muito tempo as universidades atuaram como entidades autônomas, livres de interferências políticas e até mesmo independentes no que diz respeito a fatores sociais e internacionais. Mas os avanços tecnológicos promoveram uma rápida evolução nos sistemas de comunicação e transporte, aproximando pessoas e até mesmo nações. O mundo experimentava então uma globalização que se intensificaria cada dia mais, não deixando de fora o setor educacional.
Hoje, mais do que importante, o conhecimento é primordial não só nas universidades, mas também nas relações políticas e econômicas, exigindo profissionais aptos para atuar em rede, com conhecimento acerca de outros idiomas e com maior sensibilidade e tolerância às diferentes culturas existentes no mundo. Diante desse novo contexto social, as IES abrem suas portas para a internacionalização.
Apesar de ser atual, esse processo de internacionalização das IES não é recente. Há cerca de 30 anos, o Reino Unido já executava um movimento de comercialização de curso superior com a introdução do pagamento de taxas de frequência para estudantes internacionais. Na Europa Continental, por exemplo, o Programa Erasmus (European Region Action Scheme for the Mobility of University Students), criado em 1987, foi um forte impulso para a criação de outros programas de cooperação e de intercâmbio. Em uma segunda fase, o foco passou a ser a cooperação para gerar competição, ou seja, o reforço de capacidades no sentido de um serviço que gerasse receitas próprias para as instituições, aumentando a qualidade e melhorando a imagem das IES.
Já nos últimos anos, a internacionalização tem deixado de ser uma atividade para poucos e vem se tornando um fenômeno de massas, uma tendência geral que ocorre em várias partes do mundo, embora com diferentes ênfases, papéis e posições. Dessa forma, a competição por estudantes internacionais tornou-se mais global, com países como Singapura, Malásia, Taiwan, Coreia do Sul e os Brics atraindo estudantes, ao invés de somente enviá-los. O recrutamento também ficou mais seletivo, focado nos alunos com mais talento.
O aumento expressivo de estudantes fora dos seus países é registro do estudo Education at a Glance 2017, publicado anualmente pela OCDE. No fim dos anos 1970, eram 800 mil universitários em terras estrangeiras; em 2015, esse número chegou a 4,6 milhões. Os países que mais recebem estudantes entre os que participam da OCDE são os EUA (30%), Reino Unido (14%) e Austrália (14%). Já os que mais enviam são China (20%), Índia (7%) e Alemanha (4%). Apesar dos consideráveis avanços, a América Latina ainda apresenta baixos índices de mobilidade acadêmica em comparação com os números mundiais. O estudo da OCDE mostrou que, no ano de análise, os países da América do Sul e do Norte enviaram apenas 265 mil estudantes para o exterior.
Cenário Brasileiro
Em outubro de 2017, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) publicou uma pesquisa intitulada A internacionalização na universidade brasileira: resultados do questionário aplicado pela Capes. O estudo apontou que o processo de internacionalização das IES no País não é mais incipiente, apesar de existir uma forte tendência nacional à internacionalização passiva, com baixas taxas de atração de profissionais internacionais. Por outro lado, esse cenário é bem dinâmico, dado que a pesquisa mostra como prioridade das IES a atração de professores estrangeiros.
Apesar do encerramento do programa Ciência sem Fronteiras (CsF), por meio do qual mais de 101 mil bolsas de estudos no exterior foram concedidas, projetos de colaboração e programas no exterior têm crescido. Se, naquela época, o foco era a graduação, hoje o maior número de bolsas individuais implementadas foi de doutorado sanduíche no exterior, uma tendência estratégica das IES ao focar o intercâmbio docente e os programas de pós-graduação, segundo o estudo da Capes.
O diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Janguiê Diniz, destaca a importância da internacionalização das instituições de Educação Superior brasileiras como uma oportunidade para trocar experiências, gerar novas ideias, discutir problemas, identificar soluções comuns e estabelecer pontes com organizações semelhantes. “Em uma sociedade do conhecimento, essa troca de informações e vivências não só fortalece as instituições para que operem com foco na melhoria dos seus processos e, consequentemente, na qualidade dos serviços ofertados, como também amplia as possibilidades de desenvolvimento dos estudantes que buscam na experiência internacional uma forma de se conectar às tendências e inovações das áreas profissionais nas quais atuarão após a graduação”, destaca ele.
Apesar dos avanços, muito se tem a fazer, principalmente no que diz respeito à ampliação das fronteiras em um momento em que o interesse maior é voltado para a América do Norte e os países europeus.
Em sua segunda edição, o programa ABMES Internacional chega a Israel, uma das nações mais avançadas do sudoeste da Ásia em desenvolvimento econômico e industrial. A missão, que acontecerá de 11 a 21 de outubro de 2018, segue o objetivo de desenvolver a cooperação com associações e universidades de outros países, visando à troca de experiências, organização de conferências internacionais e suporte aos associados da ABMES na busca de novos parceiros, promovendo assim a internacionalização das instituições brasileiras.
Israel tem tradição de excelência acadêmica, com universidades, faculdades e instituições de pesquisa reconhecidas mundialmente. O país conta com 62 instituições de Educação Superior e é líder mundial em ciência e engenharia, com quatro Prêmios Nobel de Química, três Prêmios Turing (Ciência da Computação) e uma Medalha Fields (Medalha Internacional de Descobrimentos Proeminentes em Matemática). Outras áreas, como Arte, Design, Música, Estudos Judaicos e Empreendedorismo também são destaque em Israel, país da região da África e da Ásia Ocidental mais bem colocado no Índice Global de Inovação. Essas características fazem do lugar um campo perfeito de parcerias e troca de experiências para aqueles que participarão dessa missão internacional.
Durante os dez dias de viagem, estão programadas visitas a sete instituições de Ensino Superior em diferentes cidades do país, além da vivência cultural: estão previstas idas a importantes pontos históricos, como a Cidade Velha de Jerusalém, o Mar Morto, o Monte das Bem-Aventuranças, em Cafarnaum, a Basílica da Anunciação, em Nazaré, entre outros. “Com a viagem para Israel, queremos compreender como funciona um dos principais polos de inovação do planeta. Acredito que a realização de delegações internacionais reforce nas instituições a importância do processo de internacionalização, tanto para o desenvolvimento institucional quanto para a comunidade acadêmica. Além disso, a experiência adquirida durante as visitas torna a internacionalização tangível para aquelas instituições que ainda não sabiam como estruturar suas ações nesse sentido”, conclui Diniz.