Enquanto as matrículas na graduação presencial caem em média 5% ao ano, os cursos a distância aumentam as cifras de modo bastante significativo. De acordo com projeção da CM Consultoria, especializada em Ensino Superior, entre 2013 e 2017 as novas matrículas na graduação a distância na rede privada cresceram 48%, de 999 mil para quase 1,5 milhão. Nos próximos anos a perspectiva é que esse número aumente ainda mais. Entre 2017 e 2026 o crescimento deve ser de 107%, para mais de 3 milhões de novas matrículas.
Menor custo e maior flexibilidade de horário são os principais atrativos dessa modalidade de ensino. Enquanto uma graduação presencial custa em média de R$ 1 mil a R$ 2 mil por mês, a graduação EAD costuma sair em torno de R$ 400. Além da economia com as mensalidades, os alunos deixam de gastar com transporte e ganham o tempo de deslocamento. Esses fatores fazem com que os cursos online sejam atraentes principalmente para pessoas mais velhas. Estudo recente realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) mostrou que a maioria do público do EAD é mulher (62%), pessoas casadas (62%) ou que trabalham (83%). Foi a possibilidade de estudar e ao mesmo tempo cuidar de quatro filhos pequenos que fez com que Nathalie Romano optasse por cursar Pedagogia a distância. Quando o curso começou, ela morava em São Paulo, mas logo teve de se mudar para Itu. Mesmo estando longe, Nathalie não precisou interromper os estudos, já que precisava ir à faculdade apenas para fazer provas, uma vez a cada três meses. “O EAD me possibilitou fazer o meu horário. Eu cuidava do financeiro do escritório do meu marido, da casa, dos filhos, não teria disponibilidade de voltar a ter aulas todos os dias”, diz ela.
Desvantagens
Os pontos positivos do EAD são muitos, mas há também algumas desvantagens e as mais comuns foram as enfrentadas por Nathalie. “Se não tiver disciplina e organização, o conteúdo acumula e fica muito puxado. Com o tempo eu fui conseguindo reservar horários específicos para estudar”, diz ela. Outro ponto negativo é que o ensino a distância diminui as possibilidades dos alunos fazerem networking e interagir melhor com professores e colegas. Em termos de empregabilidade, no entanto, a credibilidade é a mesma que no ensino presencial. Além de não fazer nenhuma diferença no diploma, que não recebe essa classificação, os empregadores admiram quem possui as virtudes necessárias para esse tipo de graduação, como disciplina e automotivação.
O ensino a distância cresce em meio a uma grande crise enfrentada pelas faculdades, impulsionada também pelos cortes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Em 2014, quando ocorreu o grande boom do Fies, o número de alunos subsidiados havia crescido para 732,6 mil. De lá para cá, porém, os novos subsídios do governo caíram 76% e em 2017 foram apenas 175,9 mil novos contratos. Sem ajuda para pagar as altas mensalidades da graduação, muitos alunos desistem. Foi o que aconteceu com Amanda Nunes, técnica em ressarcimento, que começou a cursar Administração, mas, após um semestre, teve de trancar. “Eu entrei com o intuito de fazer o Fies, porque realmente não tinha como pagar. Fiquei tentando fazer a inscrição por meses, mas nunca deu certo por falha do sistema”, diz ela. Agora Amanda pretende realizar o sonho da graduação por meio de um curso a distância, já que os valores são bem mais acessíveis.
“Estamos próximos a uma guerra de preços total. As instituições estão buscando alunos praticamente dentro dos concorrentes, tanto no curso presencial quanto a distância”, diz Carlos Monteiro, que trabalha com gestão e ensino superior há 40 anos e é CEO da CM Consultoria. O mercado está sofrendo com um excesso de oferta de cursos EAD, decorrente do Decreto 9.057, de maio de 2017, que flexibilizou as regras para a abertura de novas graduações. De acordo com a ABMES, antes do Decreto eram 6.172 polos com cursos de graduação EAD ativos. O último número disponível pelo Ministério de Educação mostrou que em 1º de agosto já eram 11.109 polos. Segundo Monteiro, com a oferta maior que a demanda, a tendência é que as instituições façam cada vez mais promoções, com isenção de matrícula e campanhas de alongamento dos prazos da mensalidade. Dessa forma, espera-se que mais pessoas consigam um diploma do ensino superior. “Uma mensalidade de R$ 250 é barata para quem é da classe média, mas não para quem possui uma renda familiar de R$ 1 mil. No Brasil são 60 milhões nessas condições”, diz ele. Diante da enorme crise financeira das instituições, um ensino superior a distância ainda mais acessível é uma boa notícia, já que um diploma de graduação traz, comprovadamente, empregos de maior qualificação e renda.