Educação Superior Comentada | Que rumo será tomado pela “Pátria Educadora”?

Ano 3 • Nº 34 • 7 de outubro de 2015

A Coluna Educação Superior Comentada desta semana analisa o rumo destinado à "Pátria Educadora"

07/10/2015 | Por: Gustavo Fagundes | 3235

Havia prometido que não retomaria os questionamentos sobre os rumos tomados pela chamada “Pátria Educadora”.

Infelizmente, os fatos recentes atingiram com tal impacto a minha verve cidadã, que me vi obrigado a, pedindo paciência para os leitores dessa coluna, retomar o tema, esperando, honestamente, que seja a última vez em que seja compelido a reacender a discussão sobre ele.

A “Pátria Educadora”, dístico que emoldurou a última campanha presidencial e vem sendo um dos estandartes publicitários da atual gestão tem, na verdade, se mostrado uma pálida tentativa de encobrir a falta de políticas públicas efetivas e duradoras para nossa educação.

Ao aceno utópico de incremento do Fies, do Pronatec e do Ciência sem Fronteira, programas supostamente destinados a assegurar o acesso e a permanência dos estudantes, bem como a melhoria na qualificação de nossos acadêmicos e pesquisadores, respondeu o poder público com uma realidade substancialmente diferente, e para pior!

Antes mesmo de encerrado o ano de 2014, o Fies recebeu alterações nefastas, na contramão do discurso vigente até a data do pleito eleitoral, modificado imediatamente após o escrutínio.

Retração drástica na oferta de vagas no Fies e no Pronatec, descumprimento das obrigações com as instituições que, acreditando nas promessas eleitoreiras, aderiram de forma maciça aos dois programas e, sobretudo, frustração do sonho de milhares de estudantes que, diante das mudanças nas regras, tiveram agora obstados o acesso e a permanência nos ensinos superior e profissional.

Redução significativa na concessão de bolsas no âmbito do programa Ciência sem Fronteira, causando enorme apreensão para os milhares de estudantes que, acreditando nessas mesmas promessas, se lançaram à empreitada de buscar no exterior condições para melhorar sua formação acadêmica.

Universidades federais em estado caótico, em greve há mais de 100 dias, com o comprometimento do calendário acadêmico e do ano letivo, com estudantes à espera do fim da paralisação, para, então, serem obrigados a engolir um calendário ilusório e tosco de reposições para tentar salvar, às custas da educação de qualidade, um ano que se mostra irremediavelmente perdido.

Essa é a realidade da política pública para a educação, diametralmente oposta às promessas da recente campanha eleitoral.

Quando pensávamos que os rumos da “Pátria Educadora” estavam irremediavelmente perdidos, eis que percebemos que o poço era ainda mais fundo do que podíamos imaginar...

Semana passada, fomos, mais uma vez negativamente surpreendidos, desta feita com a percepção de que a educação, certamente o mais estratégico dos valores de uma Nação, nada mais é do que moeda de barganha política, utilizada para acomodação de interesses em uma “reforma” destinada, exclusivamente, ao atendimento de mesquinhos interesses políticos.

Essa constatação se torna ainda mais dolorosa ao verificarmos que, nos últimos anos, os educadores que tiveram acesso ao comando, ainda que formal, dos destinos da educação nacional, foram justamente aqueles que tiveram o desempenho mais pífio nessa empreitada.

Se, por um lado, tenho profunda vergonha da incapacidade da minha geração para a adequada condução dos destinos do País, por outro, tenho ainda mais pena desta nova geração, cujos destinos estão sendo traçados em uma Nação sem o menor comprometimento real com a educação.

Pobre geração, vivendo em uma “Pátria Educadora” cujo único ensinamento é uma dantesca versão tupiniquim da teoria de Maquiavel de que os fins justificam os meios.

Seus rumos não se mostram, destarte, muito promissores...

Qualquer crítica, dúvida ou correções, por favor, entre em contato com a Coluna Educação Superior Comentada, por Gustavo Fagundes, que também está à disposição para sugestão de temas a serem tratados nas próximas edições.

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