Educação Superior Comentada | Políticas, diretrizes, legislação e normas do ensino superior

Ano 2 • Nº 75 • 18 a 24 de setembro de 2012

A Coluna do Celso desta semana trata do sucesso do 14º Fnesp, promovido pelo Semesp, em São Paulo, e do seminário da ABMES sobre o Insaes.

24/09/2012 | Por: Celso Frauches | 2904

14º FNESP: UM EVENTO QUE MARCA A MATURIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR PARTICULAR

O Semesp, o sindicato das faculdades particulares de São Paulo, realizou o 14º Fnesp, fórum nacional sobre o ensino superior particular brasileiro, nos dia 20 e 21, na capital paulista. O evento contou com a presença das mais expressivas lideranças do segmento e de palestrantes de expressão internacional.

O seminário teve como tema o empreendedorismo. Estive presente e pude registrar os pontos salientes do evento.

No primeiro dia, 20, foram abordados aspectos da inovação e empreendedorismo e seus impactos na competitividade na educação superior e a implantação da cultura empreendedora, mudanças organizacionais e entraves para a dinâmica do sistema de educação.

O prof. José Cordeiro, da Singularity University, Califórnia, EUA, discorreu sobre inovação para a transformação e competitividade no ensino superior. Trouxe informações valiosas sobre os avanços da tecnologia, com projeções que podem contribuir para o direcionamento das IES na implantação de cursos e programas de educação superior e na inovação dos currículos dos cursos de graduação e pós-graduação.

O segundo tema – Os entraves da regulamentação e da burocracia para a dinâmica da economia e do sistema de educação superior. Como fomentar o empreendedorismo e a competitividade nas IES? – contou com a contribuição do prof. M. Ramesh, da Universidade Nacional de Singapura, e do advogado José Roberto Covac, consultor jurídico do Semesp e da ABMES e sócio da Covac Sociedade de Advogados e da Expertise Educação. Tendo em vista a proposta governamental (Projeto de lei nº 4372/2012), que trata da criação do Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior, o Dr. Covac centralizou a sua análise nesse projeto de lei, com abordagens precisas sobre mais um gargalo para o desenvolvimento da educação superior brasileira.

O último bloco de palestras sobre o empreendedorismo nas IES brasileiras e a experiência de instituições norte-americanas e inglesas teve a participação de três expositores: Flávia Feitosa, diretora de pós-graduação e extensão do Centro Universitário Senac, de São Paulo, do prof. Joel Shulman,  do Babson College, Boston, EUA, e do prof. Koen Lamberts, vice chanceler da Universidade de Warwick, Coventry, Inglaterra. A profª. Flávia Feitosa, brilhante em sua apresentação, relatou a experiência do Centro Universitário Senac no desenvolvimento de ações empreendedoras e das parcerias com outras instituições, com destaque para o Babson College, com dicas oportunas para os caminhos de implantação de uma cultura empreendedora nas IES. O destaque desse bloco é, também, para o prof. Koen Lamberts, que discorreu com transparência sobre as ações empreendedoras da tradicional Universidade de Warwick, uma universidade de pesquisa.

No segundo dia, 21, inicialmente, as palestras tiveram como mote a liderança empreendedora; relação entre IES e empresa; percepção das demandas da sociedade; formas diversificadas de captação de recursos e transição do modelo de gestão, com a participação de dirigentes da Toledo Associados, da Fiesp, e do Ministério da Ciência e Tecnologia, sobre como fortalecer a relação entre IES e empresa e a necessidade do diálogo para a elaboração de projetos comuns, buscando a melhoria da qualidade e a ampliação da empregabilidade.

O prof. Custódio Pereira, diretor geral da Associação Santa Marcelina, de São Paulo, o prof. Andrew Watt, CEO da APF – Association of Fundraising Profissionals, Washington, EUA, e o prof. Kevin J. Foyle, vice-presidente associado de desenvolvimento da Rice University, Houston, EUA, indicaram quais as melhores práticas para ampliar as fontes de financiamento das IES, expandir e diversificar as receitas.

Na parte da tarde do último dia do evento, 21, houve duas apresentações que “levantaram a plateia”: a primeira, do prof. Jouberto Uchôa de Mendonça, fundador e reitor da Universidade Tiradentes (Unit), de Sergipe, e de Max Gehringer, colunista da Rádio CBN e TV Globo. O tema como inovar e empreender na gestão acadêmica  contou, também, com a participação de Ihanmarck Damasceno, superintendente acadêmico da Unit,  e de Rogério Melzi, Presidente da Estácio de Sá Participações.

O prof. Uchôa fez um histórico da sua atuação e de sua esposa na fundação do colégio que deu origem à Universidade Tiradentes, uma das mais premiadas do Nordeste. O prof. Uchôa, um entusiasta empreendedor, emocionou a plateia com a sua narrativa vibrante, trazendo informações importantes como contribuição para o empreendedorismo na educação superior privada.

O seminário foi encerrado por Max Gehringer, com a sua habilidade de palestrante e apresentador de programas de televisão de sucesso. Deu dicas essenciais para a formação de empreendedores para o mercado de trabalho.

O evento foi encerrado pelo prof. Hermes Figueiredo, presidente do Semesp e do Grupo Cruzeiro do Sul.

Em 1999, produzi dois artigos, que estão publicados em livro (FRAUCHES, Celso da Costa. Educação superior: cobras & lagartos. Brasília: Ilape, 2010), nos quais alertava as IES para os novos tempos na educação superior brasileira, em sintonia com a temática do 14º Fnesp. Os artigos têm os sugestivos títulos de Pra não dizer que não falei de flores e Manual de sobrevivência na selva universitária. No primeiro, identificava as principais características de um cenário para as primeiras décadas do século 21, tecendo alguns comentários sobre as ações indispensáveis para a navegação com mais tranquilidade e sucesso nesse cenário, caracterizado pela quebra da reserva de mercado, o avanço vertiginoso das tecnologias da informação e da comunicação, a globalização da economia, a valorização do capital humano, a qualidade como requisito de sobrevivência, a formação para o exercício da cidadania e de profissões, a pesquisa como principal função da universidade, a extensão como forma de integração da IES com a comunidade externa e a consciência ecológica. No segundo artigo, ousava levantar algumas ações concretas para sobreviver nesse cenário, consolidando a instituição no sistema de ensino superior brasileiro.

Passados mais de doze anos, vejo que poucas IES estão conseguindo ter sucesso neste início do século 21. Diversas já desapareceram, outras foram absorvidas pelos grandes grupos e algumas centenas estão patinando, sem saber o que fazer, sem rumo ou à espera do descredenciamento ou de uma milagrosa proposta de aquisição.

O 14º Fnesp é um marco histórico na realização dos eventos promovidos pelo Semesp, trazendo alertas e apontando soluções e oportunidades para as IES que desejam continuar em atividade produtiva. Souberam escolher os temas e os palestrantes, no momento em que a livre iniciativa na educação superior chega a uma encruzilhada, quando decisões e ações devem ser tomadas para a sua sobrevivência e desenvolvimento. A inovação e o  empreendedorismo são os caminhos que a história indica para que as IES particulares possam marcar definitivamente os motivos de sua presença no cenário da educação superior brasileira. E o 14º Fnesp abriu as portas para esse aprendizado. Cabe, agora, a cada IES, segundo a percepção e a sensibilidade de seus dirigentes, continuar e ser vitoriosa ou desistir, “dependurar as chuteiras” e abrir caminho para os que desejam marcar com empreendedorismo, inovação e criatividade a educação superior particular em nosso País.

 

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INSAES: DIÁLOGO COM O MEC

A ABMES realizará, no próximo dia 2 de outubro, às 19 horas, em Brasília, em sua sede, um seminário sobre o Projeto de Lei nº 4372/2012, que cria, junto ao MEC, o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação  da Educação Superior (Insaes), como autarquia federal. O evento pretende permitir uma leitura crítica e discussão dos princípios orientadores do Insaes, de seus dispositivos e de seus impactos para o sistema federal de ensino, e obter subsídios para o aperfeiçoamento do projeto de lei.

Os dirigentes das IES particulares e de suas mantenedoras não podem perder essa oportunidade para conhecer os detalhes do PL 4372/2012, as suas entrelinhas e a sua implicação no desenvolvimento ou na estagnação da livre iniciativa na educação superior brasileira. É o momento oportuno para a oferta de subsídios para o aprimoramento do citado projeto de lei.

Qualquer dúvida em relação aos temas aqui tratados, entre em contato com a Coluna do Celso.