Educação Superior Comentada | Políticas, diretrizes, legislação e normas do ensino superior

Ano 1 • Nº 18 • De 2 a 8 de julho de 2013

A coluna desta semana trata do desinteresse dos estudantes pelos cursos de licenciatura

08/07/2013 | Por: Gustavo Fagundes | 2505

O DESINTERESSE DOS ESTUDANTES PELOS CURSOS DE LICENCIATURA

Sempre que debatemos as perspectivas para o futuro de nosso País, o discurso sobre a importância da educação para o tão esperado “salto de qualidade” é unívoco!

Todos parecem concordar com a imprescindibilidade da educação de qualidade como requisito indispensável para o sonhado acesso ao primeiro mundo.

Sempre lastreadas nessa premissa, variam as fórmulas apresentadas para proporcionar o atingimento da meta dourada, da educação de qualidade.

Alguns sugerem que é necessário que as atividades educacionais reflitam o grau de avanço tecnológico que a sociedade do conhecimento atingiu, como se não fosse possível oferecer educação de qualidade sem o uso dos mais avançados gadgets.

Outros afirmam que é preciso que os alunos tenham compromisso mais efetivo com sua posição de protagonista no processo de ensino-aprendizagem, como se o empenho do aluno fosse, isoladamente, garantia de sucesso.

Mas, se buscarmos uma análise mais detida na situação dos países que lograram êxito, nos últimos anos, na mudança radical de paradigmas em sua situação educacional, chegaremos a uma conclusão um pouco diferente, sem olvidar, é claro, a importância das condições acima apontadas.

Ponto coincidente em todos esses países foi o efetivo processo de valorização e qualificação dos professores, com a exigência de um rígido processo formativo, aliada à crescente melhoria das condições de trabalho, inclusive no que pertine à questão remuneratória.

Não é difícil perceber o acerto dessa política, pois de nada adianta disponibilizar recursos de última geração se o docente não estiver devidamente qualificado para conduzir o processo de ensino-aprendizagem.

Também não é viável trazer o aluno para uma condição de protagonismo no processo de ensino aprendizagem se a instituição de ensino não dispuser de docentes qualificados para atuar dentro dessa nova (embora não tão nova) perspectiva educacional.

Não podemos deixar de registrar, também, que educar não é apenas informar, transmitir conteúdo. Educar é algo mais amplo, compreendendo o formar, além do simples informar, incluindo o transformar visões e conceitos.

Vale dizer, sem professores realmente qualificados e conscientes de sua relevância no processo educacional, quaisquer outras soluções que surjam para a transformação educacional, serão de aplicação muito mais árdua e improvável, pois não contarão com a atuação decisiva do profissional supostamente habilitado para a condução deste processo em parceria com seu maior interessado, o aluno.

Curiosamente, a situação dos cursos de Licenciatura no País vem se tornando mais crítica a cada dia, como demonstra a interessante matéria disponibilizada no Terra – Educação - , segundo a qual os cursos de Licenciatura são cada vez menos procurados pelos ingressantes na educação superior.

Falta de compreensão acerca da importância da atividade docente?

Acredito que não!

Creio que esse desinteresse seja, na verdade, reflexo da absurda desvalorização do profissional docente, do aviltamento das condições de trabalhos dos professores, passando pelos salários irrisórios, pelas péssimas condições de trabalho e pela ausência de uma política efetiva de qualificação e valorização desta categoria profissional.

Nos países que levam a educação a séria, os professores, inequivocamente, são profissionais muito respeitados e valorizados, pois sua atuação é o alicerce sobre o qual se funda toda a construção da sociedade.

Não adianta querer discutir qualidade na educação sem passar, necessariamente, pela questão da valorização e pela profissionalização efetiva da atividade profissional docente.

A procura pelos cursos de Licenciatura, portanto, somente será retomada a partir do momento em que também for retomada a devida e urgente valorização do professor, com a oferta de condições dignas de trabalho, nas quais certamente estão incluídas a valorização de sua profissão e a prática de remuneração condizente com sua relevância, entre outras medidas necessárias e prementes.

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Qualquer crítica, dúvida ou correções, por favor, entre em contato com a Coluna Educação Superior Comentada, por Gustavo Fagundes, que também está à disposição para sugestão de temas a serem tratados nas próximas edições.