Educação Superior Comentada | Fortalecimento do DNA institucional como forma de assegurar competitividade

Ano 1 • Nº 30 • De 24 a 30 de setembro de 2013

A Coluna do Gustavo desta semana analisa a necessidade de fortalecimento do DNA institucional como forma de assegurar competitividade

30/09/2013 | Por: Gustavo Fagundes | 2655

No final da semana passada, mais precisamente entre os dias 26 e 27 de setembro, foi realizado, em São Paulo/SP, o 15º Fórum Nacional do Ensino Superior Privado – FNESP – “Competitividade e Mudanças no DNA Institucional”.

O tema central do evento, evidentemente, foi a constatação de que as instituições precisam adquirir padrão elevado de competitividade, para garantir sua relevância ou mesmo sua sobrevivência no segmento da educação superior e os reflexos e exigências desta conclusão nos diversos segmentos da vida das instituições.

Este texto não tem, nem poderia ter, a pretensão de relatar de forma integral a imensa gama de informações relevantes apresentadas durante o evento, tamanha a qualidade dos palestrantes e a riqueza das intervenções dos participantes.

Embora correndo o risco de comprometer a coesão do texto, e já apresentando minhas escusas por isso, vou tentar elencar algumas das importantes colocações apresentadas naqueles dois profícuos dias, buscando extrair, a partir de minha percepção, uma sucinta seleção de informações úteis para as IES que não puderam participar, mas que almejam ingressar no seleto grupo das instituições competitivas e relevantes no cenário educacional da modernidade.

A ideia central do evento está lastreada na constatação de que a clara identificação e, sobretudo, o fortalecimento do DNA institucional, com a consciente definição da identidade, da missão e dos valores da instituição, é elemento essencial para assegurar competitividade em um mercado recheado de players e com uma demanda que, sabidamente, não vem crescendo com a mesma velocidade com que avança a oferta.

A conclusão geral parece evidente: as instituições que pretendam ser competitivas precisam definir sua identidade e investir firmemente na consolidação desta, demonstrando claramente sua visão de educação superior, seus valores e práticas institucionais, sem deixar de lado a busca constante pela inovação e pela qualidade crescente na oferta de educação superior.

Registro que, sobre o tema da inovação, já apresentei algumas considerações na coluna nº 15, publicada em 10.6.2013, na esteira do VI Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular – “Construindo Caminhos para o Amanhã”.

A partir dessas considerações, vou tentar transmitir ao paciente leitor um panorama global do evento, tentando sintetizar, nos breves parágrafos seguintes, as informações que mais provocaram minha reflexão.

A primeira premissa fundamental é a necessidade de crescente qualificação profissional, como forma essencial de aumentar a produtividade e, assim, proporcionar o crescimento constante, mesmo que a quantidade de empregos não avance de forma significativa, fazendo a opção consciente pelo crescimento qualitativo e não meramente quantitativo.

Neste compasso, surge também evidente a premissa de que a almejada competitividade será alcançada pela conquista da qualidade, da clara identificação da individualidade, da missão e dos valores da instituição e, como resultado disto, da consolidação de sua imagem junto ao mercado.

Parafraseando a propaganda conhecida no segmento das instituições bancárias, podemos dizer que, brevemente, não haverá mais espaço para quem permanecer limitado a fazer o “basicão”.

Copiar experiências de sucesso alheio sem atentar para a sua própria identidade não cria instituições competitivas, servindo, apenas, para gerar pastiches de qualidade duvidosa, sem clara definição de missão e valores e, portanto, sem uma segura e efetiva inserção no mercado educacional.

A cultura da inovação e do empreendedorismo deve ser cultivada e introduzida no âmbito da formação acadêmica, independentemente do curso ou programa ofertado, de forma a assegurar, entre outras vantagens, a indispensável articulação do sólido conhecimento teórico à efetividade da aplicação prática desses pressupostos, emprestando relevância e consistência à experiência adquirida nos anos de atividade acadêmica.

Esta articulação, possível a partir da inserção de atividades de efetiva prática profissional o mais cedo possível nos cursos superiores, entre outras medidas efetivas, permite a formação de egressos com melhor possibilidade de desempenho satisfatório das tarefas que o mercado exige, deficiência rotineiramente apontada em pesquisas realizadas entre empresas e mesmo entre os egressos das instituições de ensino superior.

É preciso, portanto, contextualizar a formação teórica, articulando fortemente teoria e prática e aproximando, ao máximo, o processo formativo levado a efeito no mundo acadêmico, das demandas oriundas do mercado profissional.

Em relação ao processo formativo, existe ainda uma necessidade talvez mais premente, mas infelizmente não muito atendida.

As instituições precisam ter o desprendimento de adequar seu processo formativo aos estudantes que possuem, deixando de considerar apenas os estudantes que gostariam de possuir na definição de suas propostas pedagógicas e metodológicas.

Em palavras mais simples e diretas, precisam adequar seus projetos pedagógicos à realidade, deixando de lado as propostas excessivamente idealistas e, muitas vezes, divorciadas de seu real contexto educacional e social.

Esta adequação, aliada à efetividade da atuação da instituição de ensino, compreendida, entre outras coisas, como a destinação do tempo dos estudantes à realização de atividades realmente relevantes e importantes para sua formação como ser humano, cidadão e profissional, trará como resultado a melhoria de sua atividade educacional e servirá, ainda, como estímulo à permanência dos discentes, auxiliando fortemente na redução das altas taxas de evasão.

Outra questão essencial é o exponencial ganho de qualidade obtido com a adoção de práticas inovadoras, não caracterizadas, necessariamente, pela aquisição de softwares e equipamentos de última geração, mas, muitas vezes, inovando na forma de olhar a educação, na forma de envolver os estudantes no verdadeiro processo educacional, destinado à formação do ser humano, do cidadão e do profissional almejado, assim como na forma de relacionamento mantido com a comunidade externa, permitindo que sejam, definitivamente, derrubados os muros que isolam a universidade do mundo real.

Inovar, muitas vezes, pode ser apenas adotar uma nova maneira de abordar um antigo problema, pois, como é sabido, fazer as coisas como sempre foram feitas, permitirá, no máximo, atingir os mesmos resultados já obtidos.

Nem sempre, portanto, a verdadeira inovação estará ligada à utilização de equipamentos e softwares de última geração, até porque limitar-se a comprar novidades hi-tech e não investir fortemente em qualificação e participação de toda a comunidade acadêmica no processo, é, no fundo, fazer coisas que, mutatis mutandis, já foram feitas, e esperar resultados diversos daqueles já obtidos.

Não basta, portanto, a efetiva preparação técnica e prática dos estudantes para o êxito na empreitada de acesso ao mercado de trabalho.

As instituições de educação superior devem, ainda, exercer forte influência positiva no desenvolvimento ético e moral de seus estudantes, estimulando esses valores como componentes indissociáveis na atuação do profissional e do cidadão.

Mais uma vez, a inserção dos estudantes em atividades ligadas à prática profissional desde o início dos cursos superiores é ferramenta extremamente útil para o desenvolvimento dos conceitos éticos e morais indispensáveis à formação dos egressos que os projetos pedagógicos prometem entregar à sociedade e que a prática acadêmica muitas vezes não consegue realizar.

Convém registrar que ética e valores morais não são transmitidos meramente por aulas teóricas, devendo, para ser apreendidos efetivamente pelos estudantes, ser parte integrante da atuação das instituições de ensino.

Não adianta, por exemplo, as instituições inundarem suas atividades de discursos sobre ética e moral, se esses valores não forem parte da vida da instituição, e só buscarem atender os indicadores de qualidade e organizar sua rotina acadêmica às vésperas da realização de uma avaliação in loco, permitindo que, no resto do tempo, a qualidade da atividade educacional não seja uma meta constante em seu planejamento e execução.

Assim, se uma instituição pretende ser competitiva e efetiva, deve, primeiramente, definir claramente sua identidade, seu DNA institucional, definindo seus valores, missão e proposta educacional.

A partir desta definição, deve procurar atuar de forma sempre intensa, pautada por esses valores e objetivando reforçar sua identidade e atingir seus objetivos, através da inovação, do respeito aos valores éticos e morais, bem como da adoção da qualidade na atividade educacional como princípio inafastável, norteador de toda sua atuação.

Em uma síntese muito apertada e talvez injusta com outras colocações absolutamente pertinentes e atuais, esses foram os aspectos que me convidaram a uma reflexão mais inquietante, inquietação esta que, neste texto, compartilho com os leitores.

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Qualquer crítica, dúvida ou correções, por favor, entre em contato com a Coluna Educação Superior Comentada, por Gustavo Fagundes, que também está à disposição para sugestão de temas a serem tratados nas próximas edições.