Detalhe

Antônio Carbonari funda instituição nos EUA para brasileiros e latino-americanos

18/11/2015 | Por: ABMES | 4495

Aos 64 anos, Antônio Carbonari Netto se vê diante de mais um grande desafio em sua vida profissional. O matemático, que soma realizações de sonhos ao dividir com jovens das classes C e D a conquista do diploma de graduação, fundou recentemente nos Estados Unidos da América a Miami University Of Science & Technology, que irá preparar jovens latino-americanos e brasileiros para o mercado de trabalho. 

A MUST será uma instituição que terá cursos de tecnólogos, bacharelado e mestrados. A previsão de vistoria é em janeiro e a aprovação até abril de 2016”.

Carbonari, que também é membro titular do Conselho da presidência da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), conversou conosco a respeito do seu novo desafio e deu dicas de negócio para os mantenedores e gestores das pequenas e médias instituições de ensino superior. 

“Gestor tem que entender de custos, de marketing, de planejamento, de educação, de currículo e de projeto pedagógico. O gestor educacional hoje tem que ser profissional”.  

Autodidata em gerir grandes negócios, o professor Carbonari iniciou sua carreira lecionando matemática. Em 1994, fundou a Anhanguera Educacional e ficou na companhia até agosto do 2014, como membro do conselho de administração. O matemático também foi membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República e já passou, como professor ou executivo, por vários grupos educacionais do Brasil, como a Universidade São Francisco e a Anhembi Morumbi.


ABMES: Recentemente, o senhor fundou nos Estados Unidos a Miami University Of Science & Technology (MUST). Por que sair do Brasil e abrir uma instituição de ensino superior fora? Como e quando surgiu esse interesse? 

Antônio Carbonari Netto – O desejo de fazer uma faculdade latino-americana surgiu há uns 10 ou 15 anos atrás, mas, ao me dedicar ao grupo Anhanguera, não tive tempo de investir nessa ideia. Agora, junto com mais dois colegas, um brasileiro e um norte-americano, consegui estruturar a MUST (Miami University Of Science & Technology), na Florida (EUA), que é um estado que tem milhões de latino-americanos e brasileiros. O projeto vai possibilitar a essa população um ensino em espanhol e português e não em inglês. Isso é possível e é dentro da Lei.  Vamos fazer!

Eu acho que já fiz o que tinha que fazer no Brasil. Eu criei uma instituição grande de ( boa e) ótima qualidade. Mexeu com as bases e com os paradigmas educacionais brasileiros. Conseguimos romper com a aristocracia educacional, fizemos a classe C e D entrar na universidade. O jovem trabalhador hoje tem diploma e depois da fusão da Kroton e da Anhanguera criamos o maior grupo educacional do mundo, quase um milhão e meio de alunos. Depois disso, fazer o que no Brasil? Já dei minha contribuição, já fiz o que tinha que fazer. Agora quero cuidar de um novo projeto, a MUST.

 

ABMES: A quem se destina a MUST? Quais são os cursos oferecidos?

A.C.: A MUST será uma instituição que terá cursos de tecnólogos, bacharelados e mestrados. A previsão de vistoria é em janeiro e a aprovação até abril. Já está tudo pronto: catálogo, projeto e todas as taxas já foram recolhidas. A nossa ideia é fazer um ensino na grande Miami voltada para o público latino-americano e brasileiro, em especial.

Os cursos já protocolados são: Administração de Plano de Saúde, Segurança Privada, Administração Internacional e Importação e Exportação. Esses cursos vão gerar bacharelado após dois semestres. Também teremos Associate degree [cursos técnicos], mestrados na área de saúde, administração internacional e um mestrado diferencial que é de desenvolvimento de tecnologia educacional e inovação. Lá [Estados Unidos] hoje é o centro de toda tecnologia mundial na área de educação. Então, queremos assimilar essa tecnologia. Provavelmente, faremos depois uma exportação para o Brasil, estaremos na ponta do sistema para oferecermos o que há de mais moderno na área de educação.

 

ABMES: A MUST vai ter convênio especial ou programas de intercâmbio com IES brasileiras? Como se dará?  

A.C.: Não haverá, por ora, relação da MUST com o Brasil. Nos Estados Unidos ao se aprovar uma universidade já se aprova a Educação a Distância junto. A nossa ideia é prover também um ensino a distância para aqueles que queiram estudar aqui com validade lá. 

 

ABMES: Em novembro, a MUST se associou à ABMES. Qual a importância de ter a sua instituição filiada à entidade?

A.C.:  Eu acredito no trabalho que a ABMES desenvolve em prol do ensino superior particular. Veja bem, eu faço parte da ABMES há muitos anos e gostaria muito que ela tivesse se expandido para Argentina, Uruguai, Equador, Chile, Colômbia... Nesses países também tem suas ‘ABMES’. Sempre quis uma Associação de Instituições Sulamericanas. O meu projeto nunca foi para frente. Quem sabe agora, de lá para cá [EUA], a gente suscita novas discussões e comece a pensar numa latin america diferente? Mas, o meu sonho é que logo após a constituição da MUST a gente consiga traçar relações aqui e lá.

 

ABMES: Professor Carbonari, o que o senhor espera do mercado educacional brasileiro?

A.C.: Acredito na educação brasileira. Acredito que a inovação da educação será a matriz da próxima década. Eu não acredito é nas escolas conservadoras do Brasil, currículos elaborados há 20, 30 anos... Mudou o perfil do alunado. O aluno não fica mais sentado 5 horas na cadeira, sendo depósito de conteúdo. Ou as instituições mudam radicalmente, se auto-destroem daquilo que foram no passado e se refazem ou então elas não terão futuro. Eu acredito na educação brasileira de futuro, inovativa, disruptiva, significativa... uma educação que agregue valor ao estudante. O diploma é isso. Ele tem que agregar valor. Quem o recebe tem que saber fazer, saber trabalhar. Não podemos mais oferecer aquela educação acadêmica da idade média, nos moldes europeus. Isso não existe mais. Pelo menos, não no ocidente.

 

ABMES: Quais são as principais dificuldades do Brasil que impedem a expansão da educação e consequentemente o desenvolvimento do país?

A.C: O primeiro desafio é o Financiamento. Hoje, nós temos várias opções. Você tem todo tipo de escola, todo tipo de curso, todo tipo de custo. O grande problema é o financiamento. Essa diminuição do Fies [Financiamento Estudantil] foi um desastre para a pátria educadora.

O Plano Nacional de Educação previa 14% de taxa de matrícula líquida dos alunos de 18 a 24 anos até 2024.  O governo passou para 30% só que cortou 70% da verba de financiamento. Então, é um crime de responsabilidade que os atuais governantes terão que carregar nas próximas décadas. É uma falta de responsabilidade cívica, isso é ilegal. Eles não estão cumprindo a lei, não estão fomentando a expansão da educação superior para que se atinja as metas do PNE.

 

ABMES: Qual a trajetória do professor Carbonari – do início da carreira até o grande empreendedor – quais são os princípios que norteiam a sua história profissional?

A.C.: Desde o começo da minha vida, sempre fui inconformado. Nunca aceitei uma história passivamente. Sempre joguei como centroavante. Sempre fiz gol. Errei muito, mas acertei muito mais. Essa é a minha trajetória. Quando fui fazer o grupo Anhanguera, eu estava num grupo extremamente estável, a Universidade São Francisco, instituição de alta qualidade. Lá, fui pró-reitor por muitos anos, mas não estava satisfeito. Eu não queria fazer educação para o meu filho, queria propiciar educação para quem tinha que trabalhar o dia inteiro

e estudar a noite. As universidades públicas jamais propiciaram que a classe trabalhadora tivesse vagas e custos acessíveis para cursar o ensino superior. Encarei o desafio. Fundei a Anhanguera em 1994 e em 1998 já tinha 4 campi com 10 mil alunos, coisa que muitas IES com 30 anos de existência ainda não tinham. Os alunos gostaram. Agregamos valor. O currículo era totalmente voltado para o mercado de trabalho e quando as pessoas me chamavam de mercantilista eu respondia ‘não, o currículo é voltado para a comunidade’, mas é a mesma coisa: mercado e comunidade. (risos).  Então, acho que a minha trajetória é de arroubo e buscas incessantes, querendo que o jovem trabalhador brasileiro pudesse estudar, melhorar sua condição de vida e ter um bom emprego. A missão da minha instituição era desenvolver o projeto de vida do aluno e não o meu, o dele. O meu sonho foi realizado e foi um grande projeto.

 

ABMES: O senhor tem uma carreira de sucesso no cenário educacional. Pode-se dizer que é um visionário dentro do segmento. Assim, que conselho daria para os gestores das instituições de ensino, sobretudo, das Pequenas e Médias Instituições de Ensino Superior?

A.C.: Como você me definiu como visionário, tenho algumas visões:

Primeiro, não basta ser educador, tem que ser gestor. Gestor tem que entender de custos, de marketing, de planejamento, de educação, de currículo e de projeto pedagógico. O gestor educacional hoje tem que ser profissional.

Segundo, as mantenedoras precisam entender que é fundamental ter um currículo moderno que agregue valor para que o estudante consiga vaga no mercado de trabalho. Você não pode formar aluno para ontem, você tem que formar para amanhã. Para isso, tem que ser visionário, você não vai acertar 100%, mas pelo menos 70 ou 80% vai.

As diretrizes curriculares são claras, não existe mais currículo mínimo, fechado, você tem que criar. Quando se fala em “atividades suplementares”, criei um monte. “Estudos independentes”, criei um monte. “Convalidar experiência anterior do aluno”, eu faço exame de proficiência na área de informática, se ele souber, eu não preciso dar a disciplina.  Inovamos dentro da legislação, com criatividade, inovação e seriedade. Agora, tem mantenedor que acha que quanto mais difícil o ensino melhor é a qualidade. Isso é bazófia. Coisa da idade média, onde a seleção era eliminar os piores. Hoje temos que trazer os não melhores para o melhor lugar. Trazer a classe C e D, o aluno carente para que ele tenha um diploma que mude o salário e mude a vida dele. Se ele subir dois ou três lugares, a família dele subirá cinco, seus filhos com certeza subirão 10 e aí o Brasil cresce.