Foi realizado, nos dias 26 e 27 de outubro, o X Encontro Nacional de Coordenadores e Professores do Curso de Ciências Contábeis (X ENCPCCC), com a presença de cerca de 180 participantes. Promovido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), organizado pela Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon), com o apoio do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRCMG), o evento foi realizado em Belo Horizonte. O X ENCPCCC teve por objetivo aproximar o Sistema CFC/CRCs da realidade das Instituições de Ensino Superior (IES), discutir a qualidade do ensino e as tendências da profissão e debater os principais desafios dos cursos em Ciências Contábeis.
O presidente do CRCMG, contador Marco Aurélio de Almeida, fez a abertura do encontro e destacou a importância do diálogo e da interação entre o órgão de fiscalização e as IES. “Esses encontros são sempre importantes e proveitosos, até porque são essas instituições que formam aqueles que, futuramente, irão se registrar nos Conselhos.”, disse.
O X Encontro teve início com o painel “Diretrizes do Enade e alteração da legislação contábil: como incorporar no ensino da Contabilidade”. O tema foi apresentado pelos painelistas: Prof. Nilton César Lima, professor Adjunto II da Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia, onde também é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis; Prof. Sérgio Luiz Agostinho Gonçalves, professor titular e coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Sudamérica e professor titular da Unipac Leopoldina, avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, professor contratado em pós-graduações da área contábil em Muriaé-MG, Ubá-MG, Teófilo Otoni-MG, Santo Antônio de Pádua-RJ; e Prof. Vidigal Fernandes Martins, professor da Universidade Federal de Uberlândia e conselheiro do CRCMG.
Nilton Lima apresentou os objetivos e as finalidades do Enade, bem como os indicadores da qualidade da educação superior, compostos pelo Enade: Conceito Preliminar de Cursos (CPC) e Índice Geral de Cursos Avaliados na Instituição. Ele destacou a importância da mobilização dos alunos quanto ao Enade, ressaltando que ele é pré-requisito para a colação de grau e pontua as instituições de ensino, com implicações para aqueles que obtêm bons ou maus resultados.
Em seguida, Vidigal Fernandes Martins apresentou os resultados de uma pesquisa sobre os mecanismos de conscientização utilizados pelas instituições de ensino públicas e privadas, no sentido de divulgar o Enade, e, também, exemplos de campanhas realizadas. “De forma geral, as campanhas ainda são pobres em termos de conscientização. Ainda há muito o que evoluir.”, disse. Martins destacou que, para ele, futuramente os resultados do Enade podem vir a ser usados em concursos públicos, no Exame de Suficiência e nos editais de mestrado e doutorado.
Na sequência, foi aberto espaço para debates e discutidas, principalmente, as dificuldades encontradas pelas instituições de ensino privadas para compor o quadro de professores com titulação de mestre e doutor e os desafios para a obtenção de boa pontuação no Enade. O painel foi coordenado pela Prof.ª Me. Marisa Luciana Schvabe de Morais, conselheira da Câmara de Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC e coordenadora do curso de Ciências Contábeis do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Univali – gestão no Campus Biguaçu.
Logo após, o professor, presidente e fundador da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Belo Horizonte (Facisa-BH) e conselheiro do CRCMG, Antônio Baião de Amorim, e o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior (ABMES), professor Sólon Hormidas Caldas, apresentaram o painel “Abordagem sobre a problemática do Fies e questões pertinentes ao financiamento das IES”.
Baião mostrou aos presentes como está a participação privada no ensino superior e apresentou dados e informações sobre o financiamento público no Brasil, como: o histórico do financiamento público; os problemas que a restrição do Fies tem trazido; prioridades do novo Fies; e a necessidade de se pensar em outros caminhos para a expansão, através de financiamento próprio.
Seguindo o mesmo raciocínio, Sólon expôs sobre os impactos da intervenção do governo nas normas do Fies, publicadas no mês de dezembro de 2014, pelas Portarias Normativas MEC n.º 21, 22 e 23. Segundo ele, as novas regras do Fies impuseram restrições que refletiram na diminuição do preenchimento das vagas concedidas. “Foi feito um estudo que provou que, quanto menor a renda do estudante, menor a pontuação no Enem. Com a mudança da regra, que aumentou a exigência mínima de pontos, os estudantes mais carentes não têm conseguido o Fies, prejudicando, assim, quem realmente necessita do financiamento. Com isso, temos conseguido preencher apenas 50% das vagas disponíveis para o Fies. Com toda essa restrição, estão colocando um freio na expansão do ensino superior.”, falou. Além disso, Sólon expôs sobre a insegurança das instituições de ensino, devido à instabilidade econômica do país. “Com a escassez de recursos públicos, a tendência é limitar ainda mais o Fies. Não sabemos se haverá oferta para o Fies em 2016. E como fica a captação sem Fies? Cada instituição vai ter de pensar uma estratégia de captação para atrair alunos. Não conte com o Fies como única fonte de capitação, pois não vamos tê-lo.”, finalizou.
A palestra “Retenção de talentos no contexto da pós-modernidade” trouxe um assunto atual e importante para o X Encontro, os novos métodos que os professores devem adotar para dar uma aula de qualidade na era da web. A palestra foi ministrada pelo economista, líder da área de Desenvolvimento de Novos Negócios da Carta Consulta, MBA em Gestão Estratégica de Marketing e mestre em Inovação e Competitividade, professor de Pós-Graduação e cursos de capacitação para reitores, coordenadores de curso e colaboradores de Instituições de Ensino Superior, Wille Muriel, com a coordenação do Conselheiro do CFC, José Eustáquio Geovanini.
Wille Muriel iniciou a palestra explicando o significado do tema “Retenção de talentos”, já que a palavra “reter” não está sendo utilizada no sentido de prender o aluno na instituição e, sim, de cativar e capacitá-lo e, assim, descobrir seus talentos. Para ele, isso não é possível com o método de aula padronizada e engessada que existe até hoje, com aulas expositivas repletas de slides. “É natural que o aluno de hoje, que tem uma necessidade maior de coisas ágeis e diferentes, tenha dificuldade em lidar com essa grade curricular padronizada, mecânica. O projeto pedagógico é um instrumento que serve para auxiliar o professor, mas ele não deve ficar preso a ele. O foco tem de ser o aluno!”, completou.
Uma das principais mudanças que deve ocorrer nos métodos de ensino, segundo ele, é a mudança de paradigmas. “Os professores devem se atualizar, perder essa visão mecânica de lecionar, se concentrar nas necessidades de seus alunos e não no projeto pedagógico da instituição.”, enfatizou. Ele ressaltou a importância das redes sociais para que os professores conheçam melhor seus alunos, pois, através das redes, os professores conseguem avaliar o comportamento dos alunos, que fazem avaliações das aulas, expõem do que gostam ou não, o que acaba aproximando mais o professor de seus alunos.
Para finalizar, ele ainda deu algumas dicas valiosas para os presentes: “Faça seu aluno ganhar tempo. Nos dias de hoje, os alunos não conseguem mais ficar várias aulas tratando do mesmo conteúdo, da mesma maneira. Use o tempo da melhor forma possível. Prenda a atenção dos seus alunos, invista em novas metodologias de aprendizagem e na capacidade deles.”, concluiu. Após a palestra, houve um momento de debate, no qual o público pôde expor suas opiniões.
Refletir sobre os desafios que serão enfrentados pela educação no futuro: essa foi a proposta apresentada na palestra “Panorama da Educação a Distância no Brasil” que encerrou o X ENCPCCC, apresentada pelo Dr. Klaus Schlünzen Junior, licenciado em Matemática pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas e doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas; professor livre-docente em Informática e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com estágio de pós-doutoramento na Universitat de Barcelona; coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Unesp; professor efetivo da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, da Unesp, e do Programa de Pós-Graduação em Educação da FCT/Unesp. A palestra foi coordenada pelo vice-presidente de Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC, Zulmir Ivânio Breda.
A palestra abordou os desafios dessa modalidade de educação e a sua importância, visando à integração das tecnologias digitais da informação e da comunicação na formação profissional, principalmente no ensino superior. “Do ponto de vista da educação, talvez a gente viva um dos momentos mais especiais. Temos um cenário desafiador e uma questão: que educação é essa que a gente projeta para os próximos anos?”, ressaltou. Para ele, é preciso falar em Tecnologias na Educação, em vez de usar o termo “Educação a Distância”. “O desafio é construir uma cultura de inovação na Educação, e estamos em um processo de transição: com tantos recursos tecnológicos, o professor deixou de ser uma fonte de informação. Por isso, precisamos sair da lógica da distribuição de informação e partir para a lógica da construção/interação. O professor deverá promover atividades para que os alunos gerem algo, eles precisam produzir e construir o conhecimento.”, explicou.
Klaus Schlünzen apresentou os desafios que se apresentam nesse processo e o que vem sendo elaborado pela Unesp. Também mencionou algumas sugestões, que podem contribuir para o avanço desse pensamento dentro da Educação: metodologias ativas de aprendizagem, currículos flexíveis, internacionalização, combate à evasão por meio de um currículo mais contextualizado, significativo e flexível e definição de uma política para os 20% de EAD na graduação, para potencializar o uso da Tecnologia e Autoria e Construção (TAC).
Encerramento
A mesa de encerramento foi composta pelo vice-presidente de Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC, Zulmir Ivânio Breda; pelo presidente do CRCMG, Marco Aurélio Cunha de Almeida, e pela vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CRCMG, Simone Maria Claudino de Oliveira.
O presidente do CRCMG agradeceu a presença de todos e destacou o alto nível das palestras e dos debates realizados, mas, também, que o número de instituições participantes ainda é baixo: “Infelizmente, o número de instituições de ensino aqui presentes ainda é baixo, tendo em vista o número total no país, mas sabemos que estamos plantando uma semente e que a tendência é de que as instituições entendam a importância deste Encontro.”.
O vice-presidente de Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC, Zulmir Ivânio Breda, fez uma avaliação minuciosa do X ENCPCCC. Destacou a expectativa inicial para o Encontro e a elaboração da programação. “Por ser o décimo encontro nacional, tínhamos uma expectativa muito boa no sentido de termos um público expressivo e, também, de trazer temas importantes para o momento da educação no Brasil, especialmente a educação do curso de Ciências Contábeis. Pensamos a programação trazendo os temas que estão sendo mais discutidos nos fóruns estaduais, que acontecem ao longo do ano em cada CRC.”, disse. Breda destacou que o Encontro seria uma síntese daquilo que foi debatido nos diversos estados, uma oportunidade de conhecer as diferenças de realidade dentro do país. “Então, o Encontro tem também esse objetivo, essa troca de experiências, de conhecimento e dos problemas do outro, porque, quando a gente passa a conhecer o problema do outro, às vezes percebemos que o da gente não é tão grande assim, isso também tem esse efeito.”, falou.
Segundo ele, os objetivos e as expectativas foram alcançados. “Os temas foram muito bem desenvolvidos pelos palestrantes, abordamos questões como os problemas na formação dos docentes, o papel da Capes e da ANPCONT nesse sentido, da Abracicon, do CFC e da FBC, com vistas a buscarmos caminhos para melhorar a formação docente do Brasil. A questão da formação teórica versus a formação prática, que também é um dilema e que se estende mais ao mercado; a questão da Capes e do MEC e o reflexo disso no Exame de Suficiência; e, também, a dicotomia entre a forma de ensinar e a forma de aprender nos dias de hoje.”, lembrou.
Como avaliação geral, o vice-presidente afirmou estar muito satisfeito com o evento, com a qualidade das discussões e com a participação da plateia. “Houve participação intensa da plateia e isso foi muito legal. Acho que minha única frustração foi o número não tão grande de participantes como a gente imaginava, porque temos quase 1500 cursos no Brasil e temos aqui pouco mais de 10% dos professores e coordenadores. Então, isso é algo que temos que lamentar. Mas, ao mesmo tempo, já participei de outros encontros anteriores e eu não tinha percebido uma participação tão forte da plateia como aqui. Cada um pôde expor as suas dificuldades, compartilhar com o grupo e ouvir algumas propostas de solução. Isto foi o ponto alto desse X Encontro, a efetiva participação!”.
