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Sólon Caldas: O Brasil precisa de uma política pública de financiamento sustentável

29/01/2017 | Por: O Popular | 3085

Diretor-executivo da associação que congrega mantenedoras de instituições de ensino superior fala sobre as dificuldades enfrentada pelos alunos. Sólon Caldas, que cita mudança de política para adesão do Fies, programa de financiamento do governo federal.

A pesquisa Os Egressos do Ensino Superior no Brasil mostra que, em média, 42% dos ingressantes terminam seus cursos no período estimado para a conclusão. Esse dado preocupa?

Há muitas variáveis nesse contexto que faz com que a pessoa atrase a conclusão ou até abandone o curso. Não quer dizer que os 58% restantes não concluíram, apesar da evasão também ser alta, em torno de 30%, mas muitos trancam a matrícula por um tempo, mudam de curso e não conseguem aproveitar todas as matérias. Isso é importante porque a formação superior está totalmente relacionada ao desenvolvimento de qualquer País. O Brasil precisa de profissionais capacitados para inovar e precisamos de políticas públicas no sentido de fomentar essa capacitação.

Quais são os principais obstáculos enfrentados pelos alunos para concluir o curso?

Os dados mostram que, entre 2010 a 2015, cerca de 80% dos egressos saíram de instituições de educação superior particulares, contra 20% das instituições públicas. Também mostram que 66% dos concluintes das particulares pagam a própria mensalidade. Temos aí duas variáveis. Uma é a questão financeira. Muitos que podem pagar seus estudos vão para a universidade pública enquanto os menos favorecidos vão para as instituições privadas e, às vezes, não conseguem arcar com os custos. Ou o indivíduo tem que trabalhar para pagar os estudos. Trabalha de dia e estuda à noite, e esse acúmulo de cansaço por conta de maratona diária pode interferir no rendimento. Outra variável importante é a formação básica em si. Muitos desses estudantes chegam com uma deficiência maior e não conseguem acompanhar a turma, o que contribui para a evasão.

As mudanças no Fies devem afetar a porcentagem de concluintes nos anos seguintes?

Ela vai afetar porque, se diminui o número de ingressantes, automaticamente vai diminuir o concluintes. Houve uma mudança muito drástica. Até 2014, o acesso ao Fies era livre. Não tinha limite de vagas e qualquer aluno dentro do perfil podia acessar o benefício a qualquer momento da graduação. Mas recentemente houve uma série de restrições e a partir do próximo senso da educação superior poderemos começar a perceber o reflexo desses números.

Milhares de estudantes estão prestes a ingressar nas universidades e faculdades neste início de ano. O que pode ser feito para garantir que uma parcela significativa se forme no tempo médio de conclusão?

As instituições têm atuado em duas frentes, oferecendo formas alternativas de financiamento estudantil. O ensino superior incrementa mais de 180% do salário em comparação ao ensino médio.

Acreditando nesse dado, instituições privadas oferecem ao aluno a opção de se formar primeiro e pagar pelo menos uma parte depois. Por conta da defasagem de conhecimento, na maioria das vezes dos estudantes provenientes de escolas públicas, fazem o nivelamento dos conhecimentos em português e matemática, principalmente na parte de cálculo nas engenharias.

O Plano Nacional de Educação (PNE) tem como meta atingir, até 2024, um índice de 33% dos jovens entre 18 e 24 anos matriculados no ensino superior. Atualmente só temos 17%. Atingir a meta é possível?

Nós estamos muito aquém na taxa líquida de matrículas, que mede a quantidade de jovens que saíram do ensino médio e logo em seguida ingressaram na faculdade. Estamos abaixo dos países vizinhos. Argentina, México, Chile e Colômbia têm taxa líquida de mais de 35%. Não ter o jovem estudando compromete o futuro e isso é complicado de consertar. Quando o Fies era porta aberta, tínhamos um crescimento próximo de 3% ao ano nessa taxa. Para batermos a meta, teríamos que dobrar a quantidade de estudantes no ensino superior em sete anos. Para isso, a taxa líquida deveria crescer pelo menos 10% ao ano. Essa meta está muito comprometida. O Brasil precisa de uma política pública de financiamento sustentável que dê conta de atender a realidade dos milhões de jovens.


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