Detalhe

Fies tem de ser também social, avalia presidente da ABMES

14/08/2017 | Por: Correio Braziliense | 3676
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

À frente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) desde maio do ano passado, José Janguiê Bezerra Diniz é um dos principais empresários brasileiros no ramo da educação. É conhecido nacionalmente por ser fundador e principal acionista de um dos maiores grupos educacionais privados do país, o Ser Educacional, que oferece cursos de graduação, pós-graduação e ensino técnico, além de preparatórios para concurso.
 
Natural de Santana dos Garrotes, na Paraíba, Janguiê tem formação em direito pela Universidade Federal de Pernambuco e em letras, pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Doutor em direito, acumula várias publicações de artigos sobre o tema. É autor de 16 livros — o último deles, O Brasil da política e da politicagem: perspectivas e desafios, lançado recentemente — que falam sobre direito e educação, além de um somente de poesias.

O empresário foi procurador regional do trabalho — quando chegou a ser alvo de uma ação do MPF-PE por improbidade administrativa devido a acúmulo de cargos, acusação negada por ele —, mas investiu em seu lado empreendedor. Em entrevista ao Correio, ele comentou sobre os desafios da educação no Brasil.

Matrículas

Ao longo desses 35 anos, a educação superior brasileira evoluiu muito, tanto em qualidade, quanto em número de matrículas. Saiu de 1,2 milhão de matrículas, quando a associação foi fundada, para 8 milhões. Mas muita coisa há de ser feita ainda. Dos 8 milhões de matrículas que temos, 76% estão nas instituições privadas. As públicas representam apenas 24%. O Brasil não pode prescindir das instituições privadas de ensino superior para se desenvolver, inclusive, para atingir parte da meta do Plano Nacional de Educação. Uma das 20 metas é colocar pelo menos 33% da população, com idade universitária — de 17 a 24 anos —, no ensino superior até 2024. Hoje, esse número é de 17%. É imprescindível o crescimento das matrículas,   o governo não pode fazer sozinho, com as instituições públicas, daí a importância das particulares. Do ponto de vista de quantidade, a gente está longe de atingir essa meta.

O novo serviço

O governo está tratando o Fies com um cunho eminentemente financeiro. É como se fosse o financiamento de um carro, um imóvel. Não, é financiamento da educação, então, o governo tem de arcar com isso, porque tem que ter o aspecto social. Enquanto o orçamento do Fies é de cerca de R$ 50 bilhões, nos EUA, é US$ 2 trilhões, porque tem cunho social, não é só financeiro. O governo está passando a responsabilidade para aquele que oferece o serviço. Quem oferece o serviço tem que receber. Apesar de a Constituição estipular que compete ao Estado a educação, como não pode fazer tudo sozinho, permite que o setor privado ofereça educação cobrando. Na medida em que oferece, dentro dos níveis de qualidade exigidos pelo MEC, e depois não recebe, é uma ilegalidade.

Universidade gratuita

Eu questiono muito a gratuidade do ensino público. A maioria dos alunos que estão nas universidades federais podem pagar, mas os filhos dos ricos estão nas universidades estudando sem pagar. O governo poderia cobrar deles e pegar esses recursos para aqueles que não podem pagar, mas tem o princípio constitucional da gratuidade, então, ele não cobra. Isso é um erro. Eu acho que tem que ser um misto. Em todo país sério e desenvolvido, os alunos que podem, pagam. Os que não podem, ganham bolsa. E as instituições privadas devem manter o modelo que existe hoje, com bolsas, por meio do Prouni, e com os financiamentos estudantis, como o Fies, mas não tão rígido e com um orçamento tão reduzido quanto agora.

Faculdades particulares

É um engodo que as universidades privadas não têm qualidade, e as públicas, sim. A diferença é que, nas públicas, estão os melhores professores e alunos. Quem faz a instituição pública ter as melhores notas são os alunos. Aqueles que não conseguem entrar lá, estudaram nas escolas públicas, vêm para as instituições privadas. Mesmo assim, a gente tem comprovado, pelos números do MEC, que as privadas estão se equiparando às públicas. A grande diferença é que as particulares pegam o aluno C e D e transforma em A, e as públicas pegam o A e continuam A ou transformam em B. Na medida em que o governo começar a cobrar, aí vai se equiparar, porque os alunos vão migrar para as privadas.


Conteúdo Relacionado

Áudios

Áudio: Seminário ABMES 35 anos (Debate)

Data:08/08/2017

Descrição:

Áudio do debate sobre o Seminário ABMES 35 anos.

Download

Vídeos

Seminário ABMES 35 anos (matéria 2)

Matéria sobre o Seminário ABMES 35 anos.

Notícias

Mais livros, menos blindados

Mestre e doutor em direito, reitor da Uninassau e diretor presidente da ABMES

Sites ganham dinheiro com a venda de vagas ociosas em universidades

As plataformas trabalham de forma parecida: fazem parcerias com instituições de ensino e oferecem descontos que chegam a 70% do valor da mensalidade

Governo traça metas com apelo financeiro em novo Fies

Para dirigentes da ABMES, mudanças recentes descaracterizam o papel social do programa

Contratos do Fies para o segundo semestre já podem ser renovados

O prazo para renovação dos contratos do Fundo de Financiamento Estudantil vai até 31 de outubro

Comissão mista da MP que modifica o Fies discute plano de trabalho na quarta-feira

A Medida Provisória trata da redução de riscos fiscais, eleva as garantias da União e altera o perfil dos financiamentos concedidos pelo Fies, a serem definidos em três modalidades de contratação

Fies 2018 é tema de discussão em celebração de 35 anos da ABMES

TV Escola: Ação foi promovida pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior

Faculdades privadas aceitam nota do Enem abaixo da média exigida por Fies e Prouni para matricular novos alunos

G1: O diretor executivo da ABMES, Sólon Caldas, aponta as novas regras do Fies como um fator motivador para essas condições de entrada no ensino superior

Para especialista, mensalidades ficarão mais caras com as mudanças no Fies

Correio Braziliense: Sólon Caldas, diretor da ABMES afirma que o modelo atual já tem muitas restrições ao financiamento e as barreiras devem piorar com o novo Fies

Private higher education in Brazil: fueling economic growth

Revista International Higher Education: O presidente da ABMES, Janguiê Diniz, o vice-presidente Celso Niskier e a consultora, Lioudmila Batourina, falam sobre a importância da educação superior particular

Janguiê Diniz lançará livro com reflexões sobre o Brasil

O evento acontece no dia 04 de abril, durante o próximo seminário promovido pela ABMES

Janguiê Diniz: O papel das instituições de educação superior particulares na engrenagem do Fies

Correio Braziliense | Em artigo, o diretor presidente da ABMES, Janguiê Diniz, fala sobre a importância das instituições particulares para o funcionamento do Fundo de Financiamento Estudantil