Quando, em março de 2020, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou que metade dos estudantes do planeta estavam fora da escola em virtude da covid-19, soou a sirene da incoerência entre os tão propagados novos padrões estabelecidos pelo século XXI e o que de fato tem sido a realidade.
Do dia para a noite o distanciamento social passou a ser regra e conceitos como disruptura e inovação foram nocauteados por um sistema educacional enraizado em práticas estabelecidas no longínquo século XIX, quando não havia alternativas ao quadro negro, à carteira e à voz in loco do professor.
A pandemia do novo coronavírus emergiu globalmente um debate que, ao menos no Brasil, há décadas era negligenciado: o uso das novas tecnologias de informação e comunicação no processo de ensino-aprendizagem. Para além da discussão sobre a utilização de computadores ou aplicativos educacionais nas salas de aula, por aqui a oferta de uma educação efetivamente mediada pela tecnologia sempre enfrentou as barreiras do preconceito e da desinformação.
Como resultado, nos últimos meses ficou evidenciado o despreparo de gestores e de escolas para lidar com a impossibilidade das aulas presenciais. Com maior ou menor estrutura, estados, municípios e unidades educacionais se viram obrigados a buscar, no susto, alternativas para viabilizar a continuidade da formação educacional de milhões de estudantes. Seja imprimindo apostilas, investindo em teleaulas ou utilizando ferramentas online de encontros virtuais, a Educação a Distância (EAD) passou a ser a única solução possível.
Se é verdade que toda essa situação era impensável e que ninguém estava preparado para ela, também o é que a resistência desde sempre enfrentada pela educação a distância não contribuiu para que o país tivesse uma transição menos traumática nesse momento.
Por outro lado, a máxima de que “é na crise que surgem as grandes oportunidades” tem se feito valer. Na educação superior, grande parte das instituições particulares de ensino, mesmo aquelas que não ofertavam EAD, conseguiram se adequar rapidamente para prosseguir com as aulas, sem prejudicar o semestre letivo. As aulas presenciais deram lugar às aulas remotas.
Ao contrário da educação a distância como conhecíamos na pré-pandemia, as aulas remotas consistem em uma dinâmica que ainda não havia sido experimentada no país, ao menos na graduação. Ela segue padrões da presencialidade, como horários a serem cumpridos, aliados a facilidades da EAD, como o acompanhamento das aulas a partir da casa ou de outro espaço escolhido pelo estudante.
É evidente que o uso da tecnologia, por si só, não consolida a entrada da educação no século XXI. Ainda é preciso avançar em campos fundamentais como a formação por competências e o protagonismo do aluno no seu processo educacional. Todavia, sem a compreensão de que a tecnologia consiste em canal essencial para que essa transformação ocorra, a educação seguirá na contramão das demandas sociais e mercadológicas dos novos tempos.
Na urgência imposta pela pandemia da covid-19, as aulas remotas foram a solução possível. Se elas vão se estabelecer como mais uma alternativa, só o tempo dirá. Pessoalmente, acredito que servirão de base para a construção de um novo modelo que integrará as tecnologias da informação e da comunicação ao perfil e às necessidades do estudante e do profissional deste século.
Por ora, o reconhecimento pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e pelo Ministério da Educação (MEC) de que a carga horária ofertada nessa modalidade é integralmente válida, abre um precedente histórico para que a educação mediada pela tecnologia finalmente avance no Brasil. Barreiras foram rompidas e um novo horizonte foi estabelecido.