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Desmotivados, estudantes trancam cursos durante a pandemia

19/08/2020 | Por: Diário da Região | 5833
Foto: Reprodução/ Diário da Região

Para os estudantes que buscam o tão sonhado diploma, a quarentena imposta pela pandemia da Covid-19 chegou como mais uma pedra no caminho, complicando os estudos, e até sendo um dos principais motivos para a desistência da faculdade. 

Segundo um levantamento da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp), um total de 265 mil estudantes de universidades particulares trancaram a matrícula ou abandonaram o curso entre os meses de março e maio de 2020. Esse número foi quase 32% maior do que no ano passado, quando se registrou 201 mil desistências no mesmo período.

Outra pesquisa, esta realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), informou que, entre os motivos apontados pelos estudantes para o interrompimento dos estudos, fatores que envolvem renda representam o maior percentual, somando 82%. 

Por outro lado, para os estudantes que não tiveram empecilhos envolvendo renda, outro problema surgiu com a pandemia: a aplicação das aulas por meio do sistema de educação a distância (EAD), que dividiu opiniões quando foi utilizado como ferramenta pelas instituições para evitar o cancelamento das aulas e, consequentemente, a perda do ano letivo.

O estudante de ciências contábeis Matteus da Silva Nossa, de 20 anos, conta que trancou a matrícula do curso logo no início da pandemia, justamente quando as faculdades migraram do ensino presencial para o online. "Eu tranquei logo no início das aulas online, já que, para mim, essas aulas não agregaram em nada, em relação ao meu conhecimento. Outro ponto foi que eu não iria pagar a mensalidade total, que pagamos quando temos aula presencial, na modalidade do EAD, é muito diferente", conta. 

Matteus afirma que a dificuldade em manter os estudos online representa um dos principais problemas para manter os estudos nesse período. "É inaceitável comparar o estilo de ensino EAD com presencial, envolve muitos aspectos. Houve muita falta de organização, mas não culpo a instituição, foi um momento complicado para todos", arma. 

Outro que deixou a faculdade para depois devido aos estudos online foi o estudante de design gráfico Antônio Melazzi Neto, de 19 anos. Ele diz que houve problemas em se adaptar ao estilo de ensino online e que não conseguiu criar uma rotina produtiva de estudos para esse novo método. "Participei de algumas aulas online, mas realmente não consegui me adaptar a esse método, foi muito complicado para interagir com os colegas de turma e os professores, foi uma mudança muito brusca", arma.

O estudante explica ainda que, com esse estilo, houve uma perda de interesse pelas atividades propostas. "Acabei caindo desanimado, os trabalhos e tarefas começaram a acumular, assim que muito desinteressado com o curso, já que as aulas se tornaram cansativas demais, muito mais do que no presencial. Ficar duas horas em frente ao computador apenas ouvindo e lendo se torna entediante. Presencialmente é bem mais dinâmico e por isso tranquei a matricula no mês de abril", conta.

Segundo a professora doutora Ana Maria Klein, do Departamento de Educação do Ibilce, campus da Unesp de Rio Preto, para que o método de ensino EAD funcione, é preciso que os alunos tenham disciplina e autonomia e que um feedback seja repassado dos alunos aos professores. "Estudar em casa não é fácil, várias situações podem perturbar a concentração dos estudantes, são necessários espaço e tempo reservados para os estudos, de preferência sem interferências externas.  O ensino, para ser eficaz, presencial ou EAD, pressupõe constantes avaliações das metodologias empregadas e ajustes sempre são necessários. Por exemplo, vários alunos apontaram que aulas síncronas (ao vivo), por vezes não conseguem ser assistidas por todos e assim, muitos docentes têm gravado a aula e postado na plataforma da disciplina. Os alunos que não assistiram ao vivo podem assistir em outro horário. Estamos trilhando um caminho novo e buscando o melhor dentro do cenário de possibilidades que uma pandemia nos impõe", arma.

A professora explica ainda que não é possível que alunos e docentes quem imunes ao sentimento de desmotivação, já que o estado emocional interfere na aprendizagem. "Creio que não devemos driblar e sim enfrentar esta situação: devemos assumir que estamos fazendo o melhor dentro do que é possível fazer, conversar, ouvir o outro sobre medos e ansiedades e ser compreensivo com as dificuldades que alunos e docentes enfrentam neste momento. Compreender e aceitar essas limitações e ao mesmo tempo enxergar as possibilidades é fundamental para seguirmos em frente", explica.

Para diretora da divisão técnica acadêmica, Liliane Cristina Campreguer, também do Ibilce, esse momento é complexo demais para todos, pois é necessário moldar-se a um novo formato de aprendizagem. "A preocupação com os efeitos do distanciamento social da comunidade universitária é constante e a troca de experiências, de modo virtual, é imprescindível neste momento", conclui.