O setor particular representa 88% das instituições de ensino superior (IES) brasileiras, de acordo com dados do Censo da Educação Superior, divulgados no início de novembro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). O levantamento mostra que mais de 74% dos universitários do país estudavam em faculdades particulares em 2010: dos 6,5 milhões de alunos matriculados, 4,7 milhões estavam em IES privadas, índice 6,9% maior que o registrado em 2009.
O ensino superior particular se expandiu para suprir uma lacuna (e também por incentivo) do próprio Estado que, historicamente, tem sido incapaz de atender à demanda de alunos, sobretudo os de baixa renda. Uma constatação importante é que o ensino privado vem se empenhando em dar respostas com qualidade a essa demanda. A análise desse cenário foi levantada durante o seminário “Lucro e qualidade acadêmica são compatíveis na Educação Superior?”, promovido pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em Brasília, no último dia 9 de novembro.
O presidente da ABMES, Gabriel Mario Rodrigues, abriu as discussões. O encontro contou com a presença de Nival Nunes de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Educação em Engenharia e ex-reitor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); Átila Simões, vice-reitor do Centro Universitário UNA, de Minas Gerais; Eduardo Alcalay, presidente do Grupo Estácio; e Antônio Carbonari Netto, presidente do Conselho Administrativo da Anhanguera Educacional.
Alunos guerreiros
Os especialistas presentes do evento defenderam que, há anos, o ensino particular tem apoiado o ensino público. “Hoje, quem tem dinheiro faz parte da classe A e não precisa se preocupar com o valor a ser pago pelos estudos, e é o principal beneficiado na rede pública”, afirmou Eduardo Alcalay. “O que deveria, em tese, ser o contrário.” Para ele, o desenvolvimento econômico do país fez com que o ensino superior se popularizasse, sobretudo na esfera privada. “Há 30 anos, a universidade era privilégio para poucos, o que mudou com a expansão do ensino particular. Nos dias de hoje, o ensino superior precisa do setor privado. Ele se segura em projetos autossustentáveis e apoia os alunos que não puderam ser absorvidos pela universidade pública”, defendeu Alcalay.
“Enquanto o MEC planeja quase que dobrar o número de ingressantes em oito anos, o setor privado já está caminhando para isso há mais tempo. Essa visão do MEC é modesta, ao meu ver”, comentou Alcalay, em referência ao pronunciamento feito pelo o secretário de Educação Superior do MEC, Luiz Cláudio Costa em junho deste ano, quando afirmou que o governo espera, até 2020, aumentar para quase 10 milhões o número de estudantes universitários no país.
Alcalay defendeu que os esforços das faculdades e universidades particulares em manter uma postura sustentável em sua relação com o lucro é fundamental, uma vez que o aluno é seu principal fiscalizador. “O aluno paga do bolso sua mensalidade, ele sabe quanto custa na prática lutar pelos estudos”, afirmou.
Ele defende que priorizar o direito do “aluno guerreiro”, que luta para manter-se estudando e no mercado de trabalho, vem sendo um dos focos de ação do setor particular. “Eles [alunos] tiram de seus salários, que muitas vezes não passam de R$ 1 mil, mensalidades que variam entre R$ 400 e R$ 700. Diferentemente do aluno classe A, nosso aluno é guerreiro. Ele é muito exigente e nos faz manter o compromisso com a qualidade. Não só por ideologia, mas por responsabilidade e até mesmo sobrevivência.” Alcalay
O material apresentado durante as exposições, bem como os arquivos de áudio e vídeo, podem ser conferidos no portal da ABMES (www.abmes.org.br).
Programe-se
O próximo Seminário ABMES abordará os resultados do Censo da Educação Superior e será realizado em 6 de dezembro, pela manhã. Acompanhe a divulgação do evento e a abertura de inscrições pelo portal da ABMES.





