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Faculdades privadas estimam perda de 1 milhão de calouros

23/02/2021 | Por: Estadão | 3384
Foto: Reprodução/ Estadão

A falta de definição sobre o modelo de aulas e a impossibilidade de usar as notas do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) levaram a uma queda no número de ingressantes no ensino superior privado. Levantamento preliminar do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, indica que 1 milhão de alunos deixaram de entrar em faculdades privadas no início deste ano - redução de cerca de 30% em relação ao ano passado. Para driblar a crise, faculdades prolongam o período de ingresso e dão benefícios a quem se decidir de uma vez.

O Enem, previsto inicialmente para novembro de 2020, foi realizado em janeiro deste ano e terá reaplicação nesta semana. E as notas só devem ser divulgadas no fim de março. Esse atraso não permitiu aos candidatos usar os resultados para concorrer à primeira rodada de bolsas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), do governo federal, concedidas este mês.

Além disso, há incertezas ainda sobre o modelo de aulas, com o recrudescimento da pandemia: se poderão ser presenciais ou apenas remotas. “O aluno que já está no curso continua. Mas o grande problema é o novo aluno que, diante de todas as dificuldades, decide esperar. O risco é ele deixar para ingressar mais para frente e, muitas vezes, começa a trabalhar e acaba deixando (o plano de fazer faculdade) para lá e não volta mais”, explica Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.

Em 2019, houve ingresso de 3 milhões de estudantes em cursos de graduação na rede privada, segundo dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC). Neste ano, a estimativa do Semesp é de redução de um terço. Estudo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) também mostra que a intenção de ingressar em um curso de graduação caiu de 38%, em novembro, para 25%, em janeiro.  A pesquisa da ABMES aponta ainda aumento das intenções de matrícula nos meses de março ou abril, na comparação com períodos anteriores à pandemia.

“O governo deixou de pagar o auxílio (emergencial) e muitas pessoas foram prejudicadas”, diz Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES. Os alunos que ingressaram agora por meio do ProUni usaram notas de edições anteriores do Ennem, mas esse contingente não preencheu todas as vagas no ensino superior privado. Em 2020, também houve queda de vagas preenchidas pelo programa de financiamento estudantil (Fies), em função da crise econômica. Foram apenas 53,77% do total, ante taxa de 78% em 2019.

No ano passado, Marianna Vieira, de 18 anos, abandonou o curso de Relações Internacionais que fazia em uma faculdade particular de São Paulo porque pretendia mudar de área e sentia que o ensino a distância não era a mesma coisa. Agora, pensa em Psicologia, mas ainda tem dúvidas sobre as vantagens de entrar em um curso superior neste momento.

“Meu maior receio é que acabe gastando dinheiro à toa em algo que não vai me agregar. Da forma como as particulares estão lidando com o ensino a distância, fico pensativa se vale a pena começar a estudar agora ou se é melhor esperar até que pudesse ter aulas presenciais”, diz a jovem. Ainda indecisa sobre a faculdade, ela deve começar um curso de barista.

Mesmo os que já estão com o pé na faculdade, adiam o começo do curso. Aprovado no Insper para fazer Economia, Lucas Muniz, de 17 anos, retardou a entrada na graduação para o 2º semestre, na esperança de começar a faculdade com algumas aulas presenciais. “Sentiria falta de interação social, conhecer os veteranos, os professores, o Insper tem uma estrutura enorme, tem de aproveitar o máximo que der.”

O Semesp calcula que haverá mais interessados em ingressar no ensino superior privado depois de abril, quando as novas notas do Enem forem liberadas, e espera-se maior controle da pandemia. Como o Estadão mostrou, até mesmo as faculdades adiam a retomada de aulas presenciais por causa de incertezas em relação às regras sanitárias. Nas últimas semanas, houve recrudescimento de restrições em municípios como Araraquara (SP) e outros da região.

Promoção e ensino em módulos são estratégias
Também é comum que os jovens apliquem as notas obtidas no Enem em vagas nas universidades federais e busquem o ensino privado só depois de saber que não conseguiram nas públicas. Como as notas do Enem só devem sair no fim de março, faculdades apostam até em promoções para que o aluno se decida antes do resultado do exame.

Na Estácio, por exemplo, três mensalidades do 1º semestre serão abonadas para os 15 mil primeiros alunos que fizerem a inscrição em um programa de incentivo lançado nessa segunda, 22. O calouro paga R$ 49 no mês da matrícula, em maio e em junho. Ao fazer a renovação no 2º semestre, esses valores se tornam crédito para o estudante. O benefício, segundo a Estácio, é para que o estudante não desista de entrar na graduação por causa do adiamento do Enem.

As faculdades particulares também organizam ensino modular, que permite a entrada de estudantes em qualquer época do ano. Em cursos modulares, os alunos não têm todas as disciplinas ao mesmo tempo - eles fazem um módulo de cada vez. Dessa forma, um estudante que entrar em maio, por exemplo, ingressa no início de um dos módulos e depois retoma os que foram estudados no início do ano.

A estratégia foi adotada pelo Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), no Rio, que conseguiu estender por 34 dias a captação de alunos, com entradas até o dia 24 de abril. A universidade oferece aos que ingressam tardiamente oficinas para recuperar a aprendizagem, explica Bruno de Andrade Teixeira, vice-reitor de ensino da Unisuam.

Outras faculdades, como o Instituto Mauá de Tecnologia, já estudam fazer um novo vestibular daqui a alguns meses. “Nesse caso, formaremos uma turma especial de ingressantes que terá  carga horária semanal mais intensiva no início do curso”, informou a instituição, por meio de nota.


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