O aumento da vacinação trouxe impactos positivos para o setor de ensino superior. O volume de novas matrículas em cursos presenciais cresceu dois dígitos nas companhias de educação de capital aberto — Ânima/Laureate, Cruzeiro do Sul, Kroton, Ser Educacional e Yduqs — que juntas representam quase 40% do mercado, no vestibular do meio do ano. A alta veio acompanhada de manutenção e até leve alta do valor da mensalidade, numa sinalização que os grupos não adotaram políticas de descontos para atrair alunos.
O desempenho foi uma surpresa, uma vez que a aplicação da primeira dose da vacina para os jovens na faixa etária de 20 anos, perfil do público ingressante no ensino superior, estava em andamento durante o período do processo seletivo de inverno (julho e agosto). Por conta dessa situação, a expectativa é que os alunos deixassem seus projetos de ingressar na graduação presencial para 2022.
Essa performance é considerada uma sinalização de que o próximo vestibular, o mais importante para as faculdades, seja ainda melhor. Pesquisa da consultoria Educa Insights com 1 mil potenciais alunos de instituições de ensino particulares mostra que 63% pretendem ingressar na faculdade no começo do próximo ano. Esse índice é 25 pontos percentuais superior ao registrado um ano atrás, quando ainda não havia campanha de imunização no país e apenas 38% tinham intenção de se matricular no começo de 2021.
“A pesquisa identifica o crescimento da confiança dos estudantes em ingressar na graduação a partir de agora, visto que muitos foram vacinados e a pandemia mostra indícios de retração no Brasil”, disse Celso Niskier, presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).
O levantamento mostra ainda que entre os entrevistados que escolhem curso presencial, 63% querem ingressar no próximo semestre e 14%, no segundo semestre de 2022. Já na modalidade a distância, 67% querem iniciar os estudos no começo de 2022 e 13%, na metade do próximo ano.
Mesmo num cenário de taxas elevadas de inflação e desemprego no próximo ano, a expectativa do setor é que esse crescimento seja mantido. Os presidentes dos dois maiores grupos de ensino superior do país, Cogna e Yduqs, acreditam que essa expansão se sustenta em 2022.
Na opinião de Eduardo Parente, presidente da Yduqs, a situação econômica para os alunos do perfil da Estácio, que pertence à Yduqs, melhorou com a retomada das atividades. “O aluno da Estácio trabalha no comércio, naquelas atividades que estavam fechadas. Agora, estamos reabrindo e eles voltam a ter seus empregos, a ter mais renda para voltar a estudar”, disse Parente.
Na visão de Rodrigo Galindo, presidente da Cogna, holding que controla a Kroton, os cursos digitais, cuja mensalidade é menor, são uma alternativa à perda de renda. “Na pandemia, a resistência, o preconceito em relação à graduação digital caíram. Acredito que essa variável pode ser mais forte do que a variável macroeconômica”, disse Galindo.
Esse crescimento é um alento para o setor que vem sofrendo desde 2015 com uma queda nas matrículas de cursos presenciais por conta da redução do Fies, programa de financiamento estudantil do governo federal. Entre 2015 e 2019, o número de ingressantes no presencial caiu 14,3%, segundo dados do MEC. A pá de cal veio em 2020 com a pandemia que obrigou os alunos estudarem remotamente e que fez muitos deles migrarem para cursos on-line, cuja uma mensalidade equivale a cerca de um terço do valor do presencial.