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Medicina é o 2º curso mais procurado nas faculdades de Rio Preto

18/10/2022 | Por: Diário da Região | 2694

Ao entrar em uma sala de aula de ensino médio e questionar qual é o curso pretendido pelos estudantes, medicina aparecerá nas primeiras posições do ranking. Especialmente em Rio Preto. Com três faculdades na área, nove hospitais gerais e inúmeros centros especializados, a cidade tornou-se nos últimos anos uma referência nacional na formação de novos médicos. Medicina é o segundo curso presencial mais procurado nas faculdades da cidade, atrás apenas de direito.

Dados do Censo da Educação Superior mostram que Rio Preto possui 2.123 alunos cursando medicina, sem contar inúmeros outros que saem da cidade para cursar em outras instituições de ensino superior do Brasil. O número de estudantes em medicina é inferior apenas aos 3.029 alunos de direito. São alunos da Famerp, da Faceres e da Unilago.

Na segunda reportagem da série especial “Médico: a vida em primeiro lugar”, o Diário mostra os motivos que atraem tantos estudantes de todo o Brasil para fazer medicina em Rio Preto e a alta exigência para se formar.

Silvio de Melo Scandiuzzi, 29 anos, sabe bem dessas dificuldades. A paixão pela área médica o fez trocar os campos de futebol pelos centros cirúrgicos. “Sempre tive o sonho de fazer medicina. Para você ter uma ideia, ainda adolescente, eu acompanhava algumas cirurgias realizadas pelo pai de um amigo meu”.

O caminho que parecia trilhado para se tornar médico foi interrompido quando decidiu fazer um intercâmbio nos Estados Unidos e tornar-se jogador de futebol. “A medicina ainda rondava meus sonhos nos Estados Unidos. Na época, jogava e ganhava uma bolsa para cursar o ensino superior. Optei por administração. Não me arrependo, pois trabalhei durante anos na área até voltar ao Brasil”.

Mas a vontade de vestir um jaleco falou mais alto. Há dois anos, ele abandonou o trabalho em uma multinacional e resolveu voltar para a sala de aula. “Minha esposa me apoiou muito. Quando vi que tinha passado e contei ao meu pai, lembro que me disse: ‘filho, eu sabia que essa decisão viria, só não sabia quando’. Foi um dos dias mais felizes da minha vida”.

Cresceu nos últimos anos o número de estudantes que estão abandonando a primeira formação profissional para tentar ingressar em medicina. Na Faceres, por exemplo, quase metade dos estudantes já possuem ao menos um curso superior.

Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), destaca que a pandemia fez crescer a procura por cursos de saúde, mas que são necessárias mais políticas de incentivo para que cursos tradicionais não voltem a ser elitizados. “Com os cortes recentes em programas de financiamento estudantil, como Fies e Prouni, alguns cursos estão ficando elitizados novamente, é o caso de medicina, em que o aluno não tem como arcar com a mensalidade. A saúde mais do que nunca mostrou sua importância durante a pandemia”.

INVESTIMENTO E DEDICAÇÃO
Foi a gestação de risco da mãe que inspirou Brenda Mamed Jordão Cetrone, 25 anos, a cursar medicina. “É uma maneira de fazer para as pessoas o que fizeram por mim”. Mais do que anos de estudo para conseguir a aprovação no curso mais concorrido do Brasil, ela conta que a rotina de um estudante de medicina depois da aprovação inclui dedicação e muita vontade de aprender.

“Eu mudei muito como pessoa depois que passei em medicina. Hoje, eu presto mais atenção nas coisas ao meu redor. O estudante de medicina é um eterno aprendiz”, afirma a aluna do quinto ano. Dedicação integral – para passar em um curso de universidade pública e para acompanhar o ritmo de estudos – e boas condições financeiras são alguns dos requisitos exigidos para se tornar um médico. Também é necessário mais tempo na comparação com outros cursos de ensino superior – ao menos seis anos para se tornar clínico geral.

Para Toufic Ambar Neto, cirurgião geral e diretor da faculdade de medicina Faceres, em funcionamento em Rio Preto desde 2012, o bom médico tem que ter compaixão. “Ele pode ser o maior especialista do mundo, se não tiver compaixão, não será um bom médico”.

Hoje exclusiva para formação médica, a Faceres registra concorrência de 25 candidatos por vaga no vestibular, ainda que a mensalidade do curso superior seja de R$ 9 mil (iniciais). A instituição oferece 120 vagas por ano e possui estudantes oriundos de 26 estados do País.

“Formamos médicos generalistas com visão de agentes transformadores da sociedade. Aliamos visão humanizada com habilidades técnicas. Prova disso é a inclusão do ensino de libras entre as disciplinas de formação. É fácil atender um surdo no ambulatório, acompanhado de tradutor. Mas numa situação de emergência o paciente estará sozinho e o profissional tem que saber se comunicar com ele”, lembra Toufic.

Por meio de parcerias com as prefeituras, estudantes da Faceres vivenciam o atendimento na atenção primária já no primeiro semestre do curso. Nas unidades básicas de saúde, acompanham agentes de saúde nas visitas domiciliares, conhecem as equipes que compõe o atendimento primário, as deficiências do sistema único de saúde e, principalmente, aprendem na prática a importância da medicina preventiva.

“As faculdades insistem no modelo hospitalocêntrico de ensino, quando a maior demanda de atendimentos está justamente na atenção primária. Apenas 1% da população é atendida nos hospitais. A atual política de repasse do SUS tem se mostrado inviável para manutenção dos hospitais e santas casas. A medicina do futuro é a preventiva”, afirma.

Também habilitada pelo MEC em 2012, a faculdade de medicina da Unilago já colocou 11 turmas no mercado e está formando outras 21. A cada semestre, 50 novas vagas são oferecidas. O curso tem concorrência de 20 candidatos por vaga e a mensalidade custa R$ 9 mil.

“O curso de medicina é o único em que os alunos se deslocam de seus locais de origem, distâncias inimagináveis, para tentar sucesso na profissão. Na Unilago, temos alunos de vários lugares do País e de diversas faixas etárias, alguns já formados em outras profissões”, diz o cirurgião cardiovascular e coordenador do curso, Edmo Atique Gabriel.

Única instituição de ensino superior pública de medicina do Noroeste Paulista, a Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp) foi fundada em 1968. Considerada um marco para história médica da cidade, seu vestibular é um dos mais concorridos do Brasil, com uma média de 182 candidatos por vaga.

“Não há como falar em saúde pública no Brasil sem mencionar a importância da Famerp em formar e capacitar profissionais da área da saúde nesses últimos 50 anos. Poucas instituições no País contam com uma parceria como a nossa, com o Hospital de Base, Hospital da Criança e Maternidade, Instituto Lucy Montoro, Hemocentro e Ambulatório, a qual contribui significativamente para a formação do aluno, que passa a vivenciar de perto a realidade de um complexo que oferece atendimento especializado e humanizado”, diz Francisco de Assis Cury, diretor geral da Famerp.

Para quem está prestes a concluir o tão sonhado curso de medicina, como Brenda Mamed, mais do que vivenciar a medicina na prática durante o curso, os futuros bons médicos necessitam ouvir mais os pacientes. “Se o médico estiver disposto a ouvir o paciente, o paciente mesmo vai dar o diagnóstico. É algo que percebo muito durante meu internato”.

Estrutura atrai alunos
Além das três faculdades de medicina, hospitais gerais e especializados ajudam a explicar o sucesso de Rio Preto na formação de novos médicos. O programa de residência médica da Funfarme em conjunto com a Famerp, por exemplo, é o segundo maior do País, atrás apenas do Hospital das Clínicas de São Paulo, da Universidade de São Paulo (USP). São 64 programas de residência médica credenciados na Comissão Nacional de Residência, com o acompanhamento de coordenadores, supervisores e preceptores.

Outra iniciativa acontece no Austa Hospital através do programa “Futurar Vivência Austa”, instituído em 2019. Nele, estudantes do 3º, 4º e 5º anos de medicina têm a oportunidade de convivência em algumas unidades do Austa Hospital através da observação e do relacionamento com profissionais no centro cirúrgico, emergência, UTI e na Unidade de Saúde Integrada da Austaclínicas.

“A intenção é ampliar o projeto envolvendo parcerias com escolas de medicina do Brasil como estágio curricular e extracurricular, visando que o hospital tenha no futuro um programa de residência médica em algumas aéreas médicas”, afirmou o cardiologista hemodinamicista Luiz Antônio Gubolino, coordenador do programa “Futurar Vivência Austa”.

Referência nacional em pesquisa e inovação, o Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC), fundado em 1967, também atrai muitos estudantes que pretendem seguir na área cardiovascular. Nos últimos anos, foram mais de 600 médicos que realizaram residência na instituição entre cardiologistas, angiologistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos e cirurgiões cardíacos. O instituto também é referência na condução de estudos nacionais e internacionais.

Outros hospitais e centros especializados que explicam o grande contingente de alunos de medicina na cidade são: Horp e HO Redentora, hospitais especializados em oftalmologia; Hiorp, hospital especializado em otorrinolaringologia; e o Ultra-X Medicina Diagnóstica, referência nacional em estudos sobre radiologia. Além da rede municipal de saúde, que serve de estágio para muitos dos futuros médicos das instituições de ensino superior de Rio Preto. (RC)

COMO SE FAZ UM MÉDICO?
O que se estuda no curso de Medicina?

Medicina é a profissão que estuda o corpo humano em sua integridade e como é mantida a sua saúde, conhecendo as diversas doenças, transtornos e condições que podem alterar o equilíbrio do organismo e comprometer o bem-estar dos pacientes. Por conta disso, a grade curricular do curso inclui disciplinas teóricas e práticas que visam entender o funcionamento do corpo e a ação de agentes patógenos.

Características da graduação em Medicina

Com seis anos de duração, o curso é voltado à formação de profissionais que se dedicam aos cuidados necessários para a prevenção de doenças e restauração da saúde e do bem-estar das pessoas.

Além de ser uma graduação mais longa — outros cursos duram entre quatro e cinco anos —, ela apresenta outra característica diferenciada: aulas em horário integral. Isso significa que, em vez de frequentar a faculdade apenas no turno da manhã, da tarde ou da noite, você pode ter aulas em qualquer um desses horários.

Assim, é preciso ter uma boa disponibilidade de tempo, pois terá muitas aulas em turnos variados e ainda vai precisar estudar nas horas vagas para absorver todos os conteúdos do curso.

Como funciona a faculdade de Medicina?

Na prática, os seis anos da graduação são divididos em três ciclos, cada um com dois anos de duração:

Ciclo básico

Os primeiros dois anos do curso são compostos principalmente de disciplinas teóricas, com o objetivo de introduzir os estudantes no mundo da Medicina. De modo geral, elas são voltadas para o funcionamento do corpo humano, abordando conteúdos como os que são vistos nas aulas de Biologia do Ensino Médio, mas de forma muito mais detalhada. Além disso, podem ser realizadas visitas às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as primeiras aulas práticas em laboratório.

Ciclo clínico

O terceiro e o quarto ano da faculdade de Medicina são chamados de ciclo clínico. Nessa fase, os estudos sobre as doenças continuam, mas de forma ainda mais profunda. O objetivo é entender suas causas, a maneira como podem afetar o corpo humano e quais são as formas de tratamento disponíveis. O ciclo clínico é focado na preparação para lidar diretamente com as pessoas, o que coloca os estudantes em contato com pacientes em consultórios e ambulatórios conveniados à instituição de ensino.

Internato

O último ciclo da graduação em Medicina, que se refere ao quinto e ao sexto ano do curso, recebe o nome de Internato. Ele é composto de estágios obrigatórios que precisam ser feitos em várias áreas de atuação do futuro médico, como Clínica Cirúrgica, Clínica Médica, Saúde da Criança, da Mulher, do Idoso e da Família, entre outras especialidades. É quando também o futuro médico começa a dar plantões em hospitais.

Como funciona a residência?

Após a conclusão do curso (seis anos), estudante torna-se um clínico geral, também conhecido como médico generalista. Assim, ele pode iniciar uma residência médica, que é quando ele irá especializar-se em uma área médica. Ela é exercida dentro dos hospitais, no período de dois anos. A função possui uma carga de 60 horas/semanais, onde o médico se ajusta para tornar-se um especialista entre as mais de 50 áreas da profissão oferecidas.

Quanto custa em média o curso de Medicina?

O curso de medicina financeiramente é o mais caro nas instituições de ensino superior no Brasil. Na região de Rio Preto, os valores oscilam entre R$ 6 mil e 10 mil por mês. Além da mensalidade, o estudante precisa considerar os gastos com materiais, como jaleco, estetoscópio, oxímetro e livros, sem contar os custos com transporte e alimentação.

Prós e contras

Vantagens: sobretudo, a chance de auxiliar o próximo em circunstâncias de maior vulnerabilidade e necessidade, procedendo não só na otimização da qualidade de vida de um indivíduo, mas de categorias sociais inteiras. Além disso, o profissional encontra amplo campo de atuação profissional, adquire perícia e preparo para lidar com situações de pressão. Tem reconhecimento social, retorno emocional e altos ganhos financeiros.

Desafios: grande carga de estudo e horários não flexíveis, que exigem dedicação, inclusive em período noturno e aos fins de semana e feriados. Muitas vezes, é preciso abdicar de tempo com a família e amigos e encarar ambientes de pressão. Há necessidade constante de atualização de conhecimentos técnicos, que envolvem não só livros de medicina, mas uma grande carga de leituras de artigos e participações em cursos e seminários.