Cursos de mestrado (acadêmico e profissional) e de doutorado de todo o país receberam, em dezembro de 2010, suas notas finais após a quarta edição da avaliação trienal da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
O panorama foi positivo. Foram avaliados 2.718 programas -20% a mais do que na avaliação passada-, e a qualidade deles melhorou. A maior parte (33,9%) obteve nota 4 em uma escala que vai de 1 (pior) a 7 (melhor).
O crescimento dos considerados excelentes e com qualidade de nível internacional, que recebem nota 6 ou 7, foi de 35,4% (são 321 no total).
Também houve mais descredenciamentos (notas 1 e 2). Foram 61 programas, 2,2% do total. Na anterior, somavam 1,7%. A reprovação cresceu mais entre os mestrados profissionais -7% de 243 programas, contra os 3,8% da avaliação anterior.
``Os cursos com excelência estão em instituições consolidadas, que pesquisam e são reconhecidas há muito tempo``, afirma Jorge Guimarães, presidente da Capes.
``Entre os descredenciados, há os que foram prematuramente credenciados, os que não receberam atenção devida e os que perderam parte dos docentes.``
Para acompanhar o crescimento dos cursos e consolidar os abertos recentemente, o processo de análise deve mudar. Os que têm o conceito máximo em avaliações seguidas devem ser analisados em intervalos maiores.
Já os que tiram 3 seguidamente podem ter exames mais frequentes. ``O acompanhamento deve ser menos gerencial e mais pedagógico, com visitas e aconselhamento estratégico para melhorar``, explica Guimarães.
NOVAS REGRAS
A pós cresce, mas o número de pesquisadores na ativa é reduzido em relação a países em desenvolvimento, segundo levantamento de Carlos Henrique Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Em 2008, havia 1,3 pesquisador para cada mil trabalhadores no Brasil, enquanto na Argentina essa proporção é de 2 para cada mil e, na Coreia do Sul, de 9,7 para cada mil, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia.
``Um dos gargalos é o valor da bolsa, que não é compatível com o mercado. A portaria que permite trabalhar e pesquisar simultaneamente é um passo importante em áreas aquecidas``, opina a professora Denise Bomtempo Birche, da UnB (Universidade de Brasília).
Confira nesta edição os resultados da avaliação nas nove grandes áreas analisadas e veja na internet as notas de todos os programas (www.folha.com.br/sa865727).
Conselho muda regra para dar título de universidade
Em outubro do ano passado, o CNE (Conselho Nacional de Educação) publicou uma resolução que altera regras para uma instituição obter o título de universidade.
A partir de 2016, só as que oferecerem no mínimo quatro cursos de mestrado e dois de doutorado poderão ter essa denominação.
``A decisão tem o objetivo de qualificá-las. O que as valoriza é a pesquisa e a pós``, afirma Jorge Guimarães, presidente da Capes.
A medida afeta 144 instituições de ensino superior -58 federais e 86 privadas-, pois 52% delas não estão adequadas a essa exigência, segundo levantamento feito pela Folha. Universidades estaduais e municipais não precisam atender a essa resolução do CNE.
As que hoje usam o título de universidade terão de criar, no mínimo, 126 programas de mestrado e 119 de doutorado para poderem se recredenciar.
``Terão de pesar se vale a pena o investimento para manterem ou obterem o nível de universidade``, afirma Gabriel Mario Rodrigues, presidente da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior).
PLANOS PARA 2013
A resolução prevê que em 2013 as universidades tenham ao menos três mestrados e um doutorado.
Isso pode abrir oportunidades para mestres e doutores, pois, segundo a resolução, universidades deverão ter ao menos um terço de professores com mestrado ou doutorado e um terço em regime de dedicação exclusiva.
Para a Capes, a estratégia que deve ser usada pelas instituições a fim de atingir a meta é a de abrir dois mestrados profissionais -menos exigentes- e dois outros programas acadêmicos, com mestrado e doutorado.
Espera-se também impacto na graduação. Instituições que unem ensino e pesquisa obtêm melhores resultados na formação de alunos -entre outros motivos, pela estrutura da pós.
``O acesso ao portal de periódicos da Capes aumenta a qualidade da graduação, pois os alunos podem pesquisar artigos com o que existe de melhor na ciência``, argumenta Carlos Henrique Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.
O QUE ELES ACHAM
``É uma maneira de estimular a pesquisa nas universidades, um dos eixos fundamentais de uma instituição que possui esse título``
CARLOS HENRIQUE BRITOCRUZ, diretor científico da Fapesp
``A pós exige um investimento alto. O título de universidade é importante para a imagem. Cada instituição terá de fazer um balanço para saber se esse custo é válido``
GABRIEL MARIO RODRIGUES, presidente da ABMES
``Para ter pós `stricto sensu`, a universidade precisa de um quadro docente qualificado. Não é fácil criar pós em uma instituição que foca a graduação``
DENISE BOMTEMPO BIRCHE, decana de pós da UnB
