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Édson Franco analisa situação das pequenas e médias IES no cenário educacional

17/04/2013 | Por: ABMES | 2565

No último dia 09, a Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior realizou seminário voltado para instituições de ensino superior de pequeno e médio porte. Com o tema Pequenas e Médias IES - Tendências e Oportunidades foram compartilhadas as experiências de gestores e especialistas do cenário educacional. Entre os palestrantes estava o professor Édson Franco, ex-presidente da ABMES, que enriqueceu o seminário com a sua bem-sucedida experiência enquanto gestor de grande, média e pequenas instituições de ensino superior.

Confira a entrevista com o professor Édson sobre sua atuação no mercado educacional e seu ponto de vista em relação ao ensino superior brasileiro.

 

ABMES: Como o senhor se sentiu ao ser convidado, pela ABMES, para falar sobre sua importante atuação no mercado educacional e o que espera que resulte deste seminário?  

Édson Franco: Eu agradeço por me fazerem ressurgir das cinzas, qual Fênix, quando já atravesso os tempos da lembrança e da alvura dos cabelos, que alguns chamam injustamente de melhor idade. Acredito que o convite que me foi formulado decorre das quatro experiências que já vivi e vivo no mundo educacional. Participar deste seminário, portanto, é para mim a busca de ideias de salvação, de muito mais alunos e de efetiva sustentabilidade. O leque de experiências de vida permite-me encarar este seminário como uma oportunidade ímpar de aprendizado.

 

ABMES: Discorra um pouco mais acerca dessas quatro experiências.

ÉF: Nos anos 80 e 90, dirigi uma universidade de 15.000 alunos, considerada para a época como uma universidade de porte. Hoje esse número é pouco expressivo, diante das grandes instituições educacionais com centenas de milhares de estudantes.

Em seguida, fui convidado e dirigi por pouquíssimo tempo uma outra universidade, de fora do meu Estado, que, de 15.000 alunos, em uma década, ficou reduzida a 1.500 estudantes – na maioria bolsistas. Aos ataques impiedosos do MEC, essa instituição não soube reagir com eficácia e está agora procurando encontrar o bonde da história.

Presido atualmente uma IES de 2.300 alunos no extremo norte do país. Ela se apresenta em condições de rara sustentabilidade e de cursos bem reconhecidos.

Finalmente, presido também uma outra IES, em Belém do Pará, esta de 900 alunos, com cursos todos bem reconhecidos.

 

ABMES: Professor Édson, o que senhor considera como Pequenas e Médias Instituições de Ensino Superior (PMIES)?

ÉF: O conceito de pequena IES parece resultar, para os efeitos deste seminário, da conjugação de dois fatores: contar com um universo pouco expressivo de alunos e possuir poucas condições de sustentabilidade. E nesse caso as condições de sustentabilidade parecem constituir a característica de “pequena” para a IES e não necessariamente o contingente de alunos que possua. São pequenas porque não criaram o seu próprio nicho e não se constituem em referência social ampla.

 

ABMES: E como o senhor vê o processo de sustentabilidade das PMIES? 

ÉF: A ideia de pequena IES nem sempre configura o grau de carência de sustentabilidade da mesma. Há IES de pequeno porte, mas cuja sustentabilidade mostra-se social e evidentemente reconhecida. Elas descobriram receitas para além das mensalidades escolares e prestam relevantes serviços para a sociedade.

 

ABMES: E quais são as dificuldades que as PMIES enfrentam para alcançar a sustentabilidade?

ÉF: Sou forçado a arriscar sobre a existência de alguns aspectos ou causas determinantes da pequenez e da pouca sustentabilidade de algumas IES:

* Certamente o MEC é uma das causas a se considerar. Ele sente, algumas vezes, que pode falar mais alto do que o próprio mercado e, assim, restringir quaisquer ímpetos de crescimento das IES naquilo que a comunidade mais deseja. Ele ainda tem dificuldades de perceber que é o Ministério da Educação e não o Ministério da Educação Pública no País.

* Outro fator é seguramente o mercado que não está recebendo o profissional acabado como desejaria receber. Mas nesse caso, as críticas parecem desconhecer os caminhos da preparação profissional que não acontece exclusivamente no ensino superior. A qualidade de ingresso do aluno não parece ser adequada. Por sua vez, as instituições não estão sabendo dialogar de forma objetiva e prática com o mercado. É preciso evitar a prática da Lei de Lavoisier Pedagógica do “nada se perde, nada se cria e tudo se copia” nos projetos de cursos e de disciplinas, de tal maneira que dirigentes e professores mergulhem no conhecimento das amplas necessidades do mercado.

* O cliente (discente) é o terceiro aspecto que determina a pequenez da IES e as dificuldades da sua sustentabilidade. Nos últimos tempos temos constatado que o famoso fenômeno da “repescagem”, antes privativo das IES particulares, hoje já acontece também nas instituições públicas e em cursos considerados de primeira linha como Medicina e Direito. As preocupações com a aprendizagem dos alunos também não parece decorrer de firmes princípios estabelecidos.

 

ABMES: Qual é o fator determinante para a sólida gestão de uma IES?

ÉF: Estou seguro de que “gestão” é um dos fatores determinantes da sustentabilidade de uma IES. Não é o único, porém, e nem só foi ele que, por exemplo, contribuiu para o desmoronamento da sustentabilidade da universidade que por dois meses dirigi, até que fui obrigado a deixar a instituição e a deixar de fumar ... (risos)

Custo a acreditar que as questões da gestão resultem exclusivamente da profissionalização. Alardeia-se muito a esse respeito, mas, na essência, parece que a única coisa boa da gestão é gastar menos do que recebem as IES e recolher mais, numa contabilidade muito própria dos nossos ancestrais descobridores.

 

ABMES: O senhor acredita que a boa relação entre o corpo docente e discente das IES seria um fator ponderável para a boa gestão de uma pequena ou média instituição?

ÉF: Noto que algumas IES, que baseiam a busca de seu alunado na mídia, conseguem resultados quase imediatos, mas de pouca duração. Os professores dessas IES não se sentem muito honrados em emprestar seus conhecimentos entusiasmados nas mesmas. A relação pessoal acaba pouco favorecida embora o desempenho contábil das IES seja robusto e cobiçador. Falar em ensino personalizado em algumas IES é pecado capital. Elas são carentes de amor e, terminados os cursos, pouco sobra de lembranças dos tempos de ensino superior.

 

ABMES: Professor, e quanto à efetiva gestão das IES, o que se pode fazer para melhorar?

ÉF: Não me julguem na contramão da realidade e nem me tomem como um saudosista que faz vista grossa às mudanças. Mas acho que posso contribuir com algumas crenças e dicas pessoais. Promessas são para serem cumpridas, então não prometa mais do que pode. Envolva seus colaboradores na busca de enlaces institucionais, geradores de novas receitas para além das mensalidades. Lembre-se que não há liderança sem presença como marca da IES, portanto, personalize o que puder, ou seja, customize tudo. E nunca se esqueça de que o controle é importante, mas o relacionamento é o que constrói.

 

ABMES: E em relação ao mercado, o que o senhor considera ponto forte para reflexão dos gestores?

ÉF: É preciso constituir conselhos de empresários nas instituições de ensino superior, com reuniões semestrais, para discutir os rumos a serem adotados. Eles poderão ajudar na política de crescimento e desenvolvimento. Os gestores devem também realizar estudos e pesquisas, com seus professores, sobre como aperfeiçoar o trabalho das instituições na comunidade. Estes resultados sempre são divulgados pela mídia. É importante lembrar que a mídia só se interessa por fatos e não adianta reclamar disto.

Outra dica valiosa é desenvolver nas empresas ciclos de debates com a participação de alunos e professores. Isto é um procedimento que marca. Crie certames empresariais e culturais que sejam sediados na IES. A mídia gosta muito disto. E, por fim, integre o empresariado no bojo das disciplinas dos cursos ofertados.

 

ABMES: E quanto ao corpo discente das IES, o que o senhor aconselha que os gestores façam para trabalhar melhor com esse grupo?

ÉF: Uma instituição precisa aperfeiçoar o atendimento em todos os setores das IES, e inclusive seu site. O “candidato” hoje domina o meio virtual. Integre, efetivamente, corpo docente e corpo discente. É fundamental a amizade e o relacionamento eficaz. Atue sempre no pouso e na decolagem dos alunos. Neles pulsa a IES. Preocupe-se com o planejamento do ensino e com o acompanhamento do mesmo. O mais importante é o que o aluno aprende e não o que se pensa haver ensinado.

 

ABMES: O senhor destacou o impacto do Ministério da Educação na sustentabilidade das PMIES. Quais os conselhos que o senhor daria para os participantes deste evento refletirem em relação ao MEC?

 ÉF: Pela minha vivência na área educacional, eu daria quatro conselhos que julgo triviais para uma boa gestão com a participação do Ministério da Educação, são eles:

* Nunca pergunte nada ao MEC. A resposta será sempre negativa. Diga ao MEC como Você vai proceder com lisura e equilíbrio e faça;

* Aplique na sua IES os formulários de avaliação governamental disponíveis na Internet e conclua como deve ser o resultado da avaliação externa, realizada pelo MEC. Você saberá como dialogar com os avaliadores se assim proceder. Será ação consciente;

* Esteja sempre atento aos rumores governamentais, frequentando sistematicamente as reuniões da ABMES. A informação domina o mundo;

* Construa com seu trabalho uma corrente de fortalecimento com ABMES perante o Governo Federal. Uma ABMES forte terá sempre peso maior perante o Governo.

 

ABMES: Professor, para encerrar nossa entrevista, qual é a análise que o senhor faz do MEC e de suas avaliações?

ÉF: A dificuldade do MEC está em não saber atacar as causas dos medíocres resultados do Pisa, do Enem e do Enade. A IES pode até ser bem avaliada por avaliadores externos, oriundos de designação ministerial, mas de pouco isto adiantará diante dos resultados do Enade, que, lamentavelmente, ainda não foram suficientemente analisados como já vem ocorrendo com o Enem e nele inclusos os hinos desportivos e as receitas de macarrão.... Até parece que tais resultados têm pouco a ver com as políticas por ele [MEC] adotadas. As mais recentes universidades criadas pelo Governo Federal estão vivendo à míngua de professores e de infraestrutura organizacional e isto é pouco considerado pelo Poder Público. O papel usado nas decisões governamentais é inofensivo e aceita tudo. IES particulares que apresentam resultados medíocres precisam de apoio e orientação, mas o que contam é com o desdém do tratamento governamental e com a ameaça de futura punição. Para penetrar nos umbrais do MEC em busca de orientação a IES particular precisa driblar a burocracia instalada. Até parece que muitas das pequenas e médias IES são filhas bastardas do mundo educacional. O MEC parece ter medo de comprovar o DNA dessas instituições, preferindo marginalizá-las, ameaçando caçá-las das certidões de nascimento que comprovam a existência das mesmas e o reconhecimento delas. Todas as oportunidades de financiamento governamental anunciadas destinam-se às instituições portadoras de resultados privilegiados à luz dos processos avaliativos do Governo. Quem precisa não ganha.

 

Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco

Professor, advogado e jornalista. Exerceu, dentre outras funções, as de Presidente da ABMES; Secretário de Educação do Estado do Pará, Secretário Geral do Ministério da Educação, Conselheiro do Conselho Federal de Educação e Presidente da Academia Paraense de Letras. Atualmente é Membro do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, Membro do Conselho Curador da Funadesp e Reitor da Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro e Presidente do Centro de Estudos Avançados do Estado do Pará.

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