Ouvir o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmar que a pasta retomará importantes programas de inclusão social, como o Fies e o Prouni, nos traz otimismo. Sabemos que a educação superior é a porta de entrada de milhares de jovens para melhores oportunidades de trabalho e renda. O aprimoramento de políticas públicas de acesso e permanência no ensino superior é uma das iniciativas importantes que se esperam da nova gestão do ministério.
Além disso, é fundamental dar prioridade à educação básica, especialmente à necessidade de recuperação da aprendizagem perdida durante a pandemia. Nesse sentido, o setor de ensino superior privado — composto por mais de 2.500 instituições em todo o Brasil e responsável pela formação de 70% dos novos professores — está preparado para colaborar muito com a iniciativa, envolvendo milhares de estudantes de licenciatura que podem, sob orientação de professores das redes públicas, participar de aulas e atividades de reforço acadêmico em horários alternativos às aulas correntes. Essa carga horária, inclusive, pode fazer parte das atividades obrigatórias de extensão de todos os cursos superiores. Um novo Projeto Rondon, com foco na qualidade da educação básica.
Um outro desafio não menos importante é melhorar a qualidade dos professores, valorizando a carreira e preparando os mestres para as competências necessárias para uma educação cada vez mais digital. Nesse ponto, temos defendido junto ao Conselho Nacional de Educação a reformulação das diretrizes curriculares dos cursos de formação inicial docente, com foco no perfil do professor que queremos: competente, motivado e capaz de atuar como agente de transformação do ambiente escolar, engajando alunos e sendo o facilitador da aprendizagem em sala de aula.
Outra questão que certamente deverá fazer parte do plano de trabalho do ministro Camilo Santana é o distanciamento entre o que se ensina nas escolas e universidades e as exigências do mercado de trabalho em constante transformação. Fala-se muito nas soft skills — as habilidades socioemocionais ¬— hoje tão importantes para assegurar uma carreira de sucesso. Infelizmente, essas competências e habilidades não são medidas adequadamente nos exames públicos, como o Enade, e muitas instituições adotam, por isso mesmo, currículos mais tradicionais e menos inovadores. O estímulo à inovação pedagógica, principalmente com a universalização do acesso à internet nas escolas, como promete o ministro, é fundamental para a qualidade do ensino e para trazer de volta estudantes que perderam o gosto por aprender.
Um dos entraves para a inovação tem sido o excesso regulatório, herança de um Estado controlador. Atualmente, com ferramentas como painéis de dados e inteligência artificial, é possível acompanhar o funcionamento das instituições e identificar situações de correção de rumo com muito mais facilidade, cabendo ao Estado o papel de indutor da qualidade. Para os empreendedores educacionais, é necessário ter segurança jurídica e regras claras para que possam empreender, inovar e crescer, sempre dentro dos critérios de qualidade.
Importante também lembrar que o mundo demanda uma educação cada vez mais inclusiva, diversificada, verde, criativa e empreendedora, fundamentada nos postulados dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Todas essas e outras iniciativas do MEC deverão se consolidar na elaboração de um novo Plano Nacional de Educação, que estabelecerá os objetivos e metas para a educação brasileira na próxima década e deverá ser discutido e aprovado por toda a sociedade ao longo dos próximos dois anos.
Sem dúvidas, o setor de educação superior privado tem importantes contribuições a dar. Queremos crescer com qualidade, de forma sustentável, construindo os alicerces de uma sociedade próspera, tendo na educação a mola propulsora da reconstrução de um Brasil mais justo e mais solidário. Esse desafio, que é de todos, passa pela construção de uma educação mais forte.
* Celso Niskier, fundador e reitor da UniCarioca, é diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior