Detalhe

A partir de 2018, risco para as companhias vai aumentar

07/07/2017 | Por: Valor Econômico | 2673
Agência Brasil

Lançado com pompa pelo governo após um ano de estudos e negociações, o novo Fies não agradou às instituições privadas de ensino superior. Isso porque as regras divulgadas ontem esclarecem apenas uma parte do programa de financiamento e o novo modelo transfere o risco a faculdades e bancos.

Das 310 mil vagas do novo programa de financiamento - que foi divido em três modalidades - somente 100 mil têm regras definidas. Neste último caso (batizado de Fies 1), a fonte de recursos será o Tesouro, a taxa de juro será zero com correção anual pelo IPCA e a amortização é de no máximo 10% da renda do aluno, a ser paga logo após a conclusão do curso. Já as outras 210 mil vagas (distribuídas nas modalidades Fies 2 e Fies 3) ainda são consideradas incertas, principalmente, porque os bancos é que vão bancar o risco e administrar os recursos que virão do BNDES e de fundos regionais. Com isso, a expectativa do setor é que as taxas de juros e as exigências para ser elegível ao crédito sejam altas, podendo inibir a contratação de novos financiamentos. Atualmente, o Fies aceita, por exemplo, alunos com nomes negativados, o que não ocorre nos bancos.

"O governo fatiou muito o Fies, o que temos garantido são 100 mil vagas, que é muito menos do que o volume atual que é 225 mil. No Fies 1, é preciso deixar claro para o aluno que não é exatamente juro zero, porque ele pagará a correção da inflação todos os anos", diz Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). O Fies atual tem uma taxa anual fixa de 6,5%. A estimativa do mercado é que o IPCA fique em 4,25% em 2018.

Segundo Elizabeth Guedes, vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas (Anup), o contrato do financiamento, cujo valor precisa ser informado ao aluno no ato da assinatura, deve ser corrigidos pelo IPCA, o que demandará das escolas muito planejamento porque trata-se de um crédito de longo prazo.

A Ideal Invest, única gestora de crédito privado universitário do país e cujo modelo serviu de inspiração para o MEC desenvolver o Fies, acredita que a ampliação das fontes de funding para o novo Fies deve permitir ao setor privado oferecer crédito com uma taxa mais atrativa do que a praticada hoje.

Outro ponto considerado negativo na visão das faculdades é a regionalização do novo Fies. Das 310 mil novas vagas do financiamento estudantil, 150 mil são voltadas exclusivamente para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste e uma parcela das outras 160 mil também serão revertidas a essas regiões. "No entanto, a maioria dos jovens que se forma no ensino médio está no Sul e Sudeste do país. Essa concentração é preocupante", diz Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, sindicato do setor.

Segundo Bruno Giardino, analista do Santander, as faculdades serão impactadas negativamente a partir de 2018 com a medida que as obriga a destinar 13% das mensalidades para o FGEDUC (fundo para cobrir a inadimplência do programa), ou seja, o dobro do percentual atual que é de 6,25%. A margem Ebitda das quatro companhias de educação listadas em bolsa - Anima, Estácio, Kroton e Ser Educacional - deve ter impacto de 1,3 ponto percentual no longo prazo, segundo o Santander.

Além do aporte da União e da parcela das mensalidades, o FGEDUC terá recursos do IRB, que transferirá parte do dinheiro do seu IPO (oferta inicial de ações). O fundo garantidor detém 15,76% do IRB e venderá seus papéis na oferta


Conteúdo Relacionado

Legislação

PORTARIA NORMATIVA Nº 12, DE 06 DE JULHO DE 2017

Dispõe sobre o processo seletivo do Fundo de Financiamento Estudantil - Fies referente ao segundo semestre de 2017 e dá outras providências.


MEDIDA PROVISÓRIA Nº 785, DE 06 DE JULHO DE 2017

Altera a Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, a Lei Complementar nº 129, de 8 de janeiro de 2009, a Medida Provisória nº 2.156-5, de 24 de agosto de 2001, a Medida Provisória nº 2.157-5, de 24 de agosto de 2001, a Lei nº 7.827, de 27 de setembro de 1989, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e dá outras providências. 


Notícias

Ministro e deputados federais debatem projeto do novo Fies

A reunião foi realizada a pedido da subcomissão, criada para apurar informações de inadimplência no fundo referente a anos anteriores e sugerir alterações no programa

MP que reformula o Fies está em análise no Congresso

Com a MP, o governo pretende garantir 310 mil vagas no ensino superior privado, das quais 100 mil a juro zero para estudantes com renda mensal familiar per capita de até três salários mínimos

Setor de educação teme dificuldades no acesso a ensino superior com novo Fies

Reuters: Além do número insuficiente de vagas, a ABMES avalia que as regras do novo Fies não foram devidamente esclarecidas

Novo Fies terá 310 mil vagas, parte delas a juro zero

O Globo: Sólon Caldas disse que ainda não estão claros os parâmetros que serão adotados, mas criticou os tópicos já anunciados pelo governo

Novo Fies mostra preocupação com saúde financeira do governo, diz associação de faculdades particulares

G1: Em entrevista, Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES, comentou as novas regras divulgadas pelo MEC nesta quinta-feira

ABMES é favorável a um Fies que garanta acesso à educação superior

Para a Associação, fica difícil fazer uma análise minuciosa sobre o novo FIES sem conhecer todos os detalhes e sem ter participado da construção das novas regras

Para baratear Fies, governo estuda fundos constitucionais

Os estudos sobre o novo Fies entraram na reta final para a edição de uma MP que pode ser anunciada ainda nesta semana