A inteligência artificial não é novidade no mundo da educação, entretanto, o avanço acelerado das soluções e a presença constante na rotina dos estudantes tem provocado reflexões entre os especialistas no assunto. O destaque no momento é o ChatGPT, tecnologia de geração de texto (GPT-3).
Para falar sobre tema, a Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES) convidou especialistas para debater os impactos desta tecnologia no seminário virtual “ChatGPT: os impactos na educação superior”. Estiveram presentes o reitor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e membro do CNPq, Luciano Sathler, a gestora educacional e de inovação, Carmen Tavares, e o membro da Academia Brasileira de Educação, Ronaldo Mota. O encontro, realizado pelo canal Rede ABMES, no YouTube, foi coordenado pelo diretor presidente da ABMES, Celso Niskier.
Cada participante contribuiu com sua percepção sobre o momento educacional frente às tecnologias e a adaptação dos professores, gestores e de toda a instituição. Todos foram unânimes em afirmar que não cabe o julgamento de ser contra ou a favor, mas de direcionar o pensamento e as ações para adequação ao que já é uma realidade.
Luciano ponderou que a inteligência artificial deve ter o papel de re-humanizar as pessoas. “Como a IA é inumada, cabe a nós nos adaptar e resgatar o que é notoriamente humano, com empatia e afetividade”, explicou. Ele lembra que os professores devem ficar atentos a ajustar constantemente seus planejamentos. “Aquele professor ou gestor que não adequar seu planejamento criado no começo do ano vai passar vergonha”.
Uma análise da tecnologia e do contexto que possibilitou a criação do ChatGPT foi direcionada na fala do professor Ronaldo Mota. Ele ilustrou o uso corriqueiro das tecnologias e inovações e explicou porquê a comunidade acadêmica se sente surpreendida pela revolução provocada pelo chatbot. “No universo educacional, não é normal que a gente trate o ChatGPT com uma vulgaridade que ele não merece. Se é alto tão usual, é essencial que todos os educandos conheçam seus princípios básicos para lidar com seus impactos”, explicou.
Mota também afirmou que os robôs superam os humanos em duas das três principais capacidades: a física e a cognitiva. Entretanto, a capacidade de metacognição ainda segue preservada. “As máquinas ainda não conseguem transcender a cognição, ter o senso crítico e afetivo. E é neste ponto que a educação deve explorar”.
A gestora educacional Carmen Tavares, comentou que o tema já tem sido explorado há algum tempo. Ela mesma, colunista da ABMES, escreveu sobre o ChatGPT em julho de 2020. “O foco das instituições está direcionado para dentro a tal ponto que, só quando uma tecnologia chega ao ponto de atingir o usuário final é que a comunidade acadêmica se assusta e busca respostas sobre como lidar com a tecnologia em sala de aula e sobre como lidar com os seus impactos”, afirmou.
Para ela, acima de qualquer julgamento de valor, o ChatGPT e outras inovações são um convite para adaptação, “não desrespeitando a liberdade acadêmica, olhando de maneira mais serena para levar as inovações para dentro da sala de aula, tratando a tecnologia não só como instrumento, mas como objeto de estudo e provocando o uso do GPT em favor do letramento científico e tecnológico”.
Ao comentar a explanação dos convidados, Niskier ressalvou a relevância do professor se reinventar e fortalecer a ideia de explorar o pensamento crítico dos alunos em sala de aula. Ele também destacou as afetividades. “O que podemos fazer é explorar a racionalidade instrumentalizada pelos afetos. Na UniCarioca, por exemplo, substituímos a redação do processo seletivo por uma texto subjetivo para que o aluno escreva sobre como se sente ao ingressar na graduação e na instituição”, exemplificou.