O segundo semestre de 2017 pode ser considerado excepcionalmente bom para a educação a distância. Dados do Ministério da Educação (MEC) mostram que, após a última resolução sobre a modalidade (confira na página 15), publicada em junho do ano passado, o número de polos cadastrados cresceu cerca de 85%: passou de 7,1 mil para 13,2 mil.
A mudança foi considerada por especialistas em educação a distância como um avanço, mas com ressalvas. A principal preocupação é o nível oferecido pelos novos polos.
“A expectativa que temos é de que esse crescimento não seja simplesmente expansionista, mas busque efetivamente uma ampliação para atender à demanda de educação”, afirma o diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Stavros Xanthopoylos.
Equilíbrio
Ele afirmou ter considerado as mudanças propostas pelo MEC positivas e disse achar natural, em um primeiro momento, que haja queda na qualidade dos cursos, mas que isso deve se estabilizar em breve. Segundo ele, com a defasagem da modalidade no País, o número de polos deve crescer ainda mais e o próprio mercado, com o tempo, vai regular os cursos em termos de qualidade educacional.
“O problema é tão complicado no EAD quanto no presencial no que diz respeito à qualidade do curso. A diferença é que no EAD isso fica patente. Nunca teve como o MEC fazer o controle de todos os cursos pelo País. O MEC até hoje trabalhava com a ideia de inspeção total, quando não tinha como fazer. Se você tem um produto que está sendo bem entregue em uma instituição que garante qualidade, por que você precisaria se preocupar com esse cara?”
O Ministério da Educação, responsável por proporcionar condições para o “boom” recente da educação a distância, demonstra estar atento aos movimentos das instituições que criaram esses novos polos de educação a distância.
Segundo o secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior, Henrique Sartori, a ideia era justamente ter um crescimento dos polos de educação a distância pelo País. “O objetivo era democratizar os polos EAD, que anteriormente, por causa da legislação, estavam concentrados em poucos Estados”, diz.
O secretario ainda justificou o crescimento citando uma melhora na análise processual do setor responsável pela área no MEC, melhorando o tempo de resposta às solicitações de credenciamento e a possibilidade de universidades quererem ou não ampliar sua presença em polos. “A fiscalização será intensificada com o Programa Nacional de Supervisão, que será lançado neste ano, e com ações corriqueiras que a secretaria empreende”, afirma, sobre a qualidade dos cursos.
Cidades menores
Um dos beneficiados com o crescimento foi Matheus de Souza Torres, de 20 anos. Prestando serviço militar na Marinha, ele tinha o sonho de cursar Geografia. Se aventurou na Engenharia para buscar um salário maior, mas não gostou. Quando decidiu seguir o desejo, a rotina do quartel atrapalhava.
Outro problema era que na sua cidade, a pequena Araruama (distante cerca de 120 quilômetros ao norte do Rio de Janeiro) não tinha nenhuma universidade que oferecesse Geografia como opção. Quando soube que a Estácio estava lançando no segundo semestre do ano passado o curso a distância de Geografia, decidiu arriscar e diz ter se surpreendido com as aulas.
“Há muitas pessoas como eu que têm uma rotina complicada e não conseguem fazer o curso que pretendem. Dou a maior força para que o leque da educação a distância abra cada vez mais”, diz o aluno.
As menores cidades foram especialmente beneficiadas com a resolução do MEC que permitiu o crescimento dos polos de EAD. Dados do site Quero Bolsa mostram que, enquanto nas capitais as ofertas por bolsas de estudo no primeiro semestre de 2018 na região metropolitana de São Paulo caíram 18% (367 mil, ante 447 mil), no interior - motivadas especialmente pelo crescimento da educação a distância -, segundo o estudo, tiveram aumento de 97 mil (no ano passado) para 697 mil em 2018.
“A Estácio já tinha uma presença muito forte nas capitais. Vimos de maneira geral como muito satisfatório esse movimento. Antes era uma relação demorada, de difícil autorização por parte do ministério”, afirma Flavio Murilo de Gouvêa, diretor acadêmico de EAD da Estácio. “Ao menos aqui, o aluno de EAD já tem desempenho superior ao do presencial. É o futuro”, diz.